Exercício literário: “No túnel do tempo”

Confira os textos recebidos nesta semana, a partir do exercício literário proposto nas redes sociais da Pragmatha Editora toda semana. O convite é para desenvolver uma narrativa breve a partir da imgem.

Ecos do passado

Ecos do passado têm me assombrado, reverberam histórias que deveriam ter acabado.

Volto a vislumbrar antigos grilhões e a solidão de celas e prisões.

As sombras me remetem a velhas dores, esmaecidas cores e espinhos sem flores.

Tantas lágrimas, sofrimentos e lamentos, queria ter deletado esses pensamentos.

Fantasmas e demônios retornam com força total, impedindo que o ciclo tenha um definitivo final.

Não posso mais ignorá-los, preciso combatê-los e irrevogavelmente vencê-los.

O passado não pode ser escondido, precisa ser digerido e resolvido.

Se o capítulo não for encerrado, ele retornará fortificado e me deixará ainda mais abalado e machucado.

Não dá mais para adiar o ponto, afinal, é necessidade vital ou a vida, jamais retornará a algo próximo do normal.

Por Leonardo Andrade

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Reconhecimento

Chuva fina batendo na janela. Frio. Insone.

Ali, recolhida em posição fetal, retornei ao passado quando vivia praticamente sem teto. Perambulava pelas ruas drogada e com fome. Não entendia de nada e não queria saber de coisa alguma.

Ali, como se estivesse no túnel do tempo, rezei pela alma de Jorge, o fiel companheiro que tirou-me da rua e aninhou-me na sua humilde casa, abrindo caminhos para eu trilhar.

Jorge foi pai, amigo, amante.

Morreu, mas ainda vive em mim

Por Rosalva Rocha

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Vida de oração

No túnel do tempo, me deparei com uma jovem e aos vários momentos da vida dela, entregue à devoção, fazendo sempre o trajeto entre as belas catedrais em estilo gótico e barroco.

Com lindos castiçais, candelabros, imagens, altares, a jovem Lila de Fátima, com seu terço na mão, a passos lentos e com véu na cabeça, tem baixa estatura e coração contrito com Deus. 

Na esquina da rua histórica, encontra uns rapazes que objetivam roubá-la até a vida. Porém, quando se aproxima, são tocados por uma paz e uma áurea luminosa vindo daquele ser. Ainda encontra alguém a mendigar e que é atendido na sua pretensão, já que é acolhedora dos desvalidos, mobilizando a comunidade com distribuição de roupa, alimentos, marmitas e sopão. Assim, segue o trajeto, chegando em segurança no seu destino. Senta-se na catedral bem arrumada e de bela arquitetura, uma verdadeira obra de arte que ajuda na concentração. Reza por todos e demonstra sensibilidade para com o próximo, praticando a caridade e o perdão, pregando a união e a paz, sendo conselheira para amigos e irmãos. Segue sua vida entre a simplicidade e oração, respeitando todos sem distinção. Isso lhe mantém viva: orar, fazendo o bem e desfrutando das belas e imensas catedrais em contemplação. Mostrando como é prazeroso servir o outro e se distanciando-se de tanta competição e problemas mundanos. Por fim, desce e sobe ladeira, por ruas milenares. A jovem, com terço na mão, reza certa de que o mundo terá solução.

Por Francisco Aquino

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Devaneios no túnel do tempo

De todos os castelos que eu conhecia, era este o mais parecido com Hogwarts. Os personagens desta escola fizeram parte do meu imaginário na infância e adolescência. Mesmo sabendo que atrás daquelas janelas, atualmente, moravam estudantes como eu, não era difícil dar asas à minha imaginação e criar as histórias.

Quando me candidatei a uma bolsa de estudos em Heidelberg, eu já tinha um plano elaborado para viajar e conhecer o máximo de castelos que eu poderia, nas férias de verão. Sabia que não era difícil isso acontecer, na Europa. Ao ser selecionada para morar em um dos prédios que circundava o castelo secular, procurei me adaptar aos costumes dos colegas que vinham de todos os lugares do mundo. O que eu mais gostava era, no final de semana, atravessar a ponte velha e caminhar no Philosofenweg- Caminho dos filósofos. As longas trilhas entre flores era o cenário perfeito para imaginá-lo repleto de pensadores de séculos passados, buscando refletir sobre a existência, ou simplesmente admirando a imponência do Castelo, do outro lado do rio.

Apesar dos meus estudos também terem proporcionado conhecer um grande amor, eu gostava de me sentar sozinha ali, com meus pensamentos, e imaginar como teria sido a vida de outros estudantes e pessoas que transitaram pelo mesmo ambiente há centenas de anos. Numa época em que a própria universidade era responsável pelos delitos de seus jovens estudantes, fiquei pensando que meu namorado estaria agora neste Studentenkarzer – Prisão de estudantes que funcionou até 1914. A barulheira que provocaram ontem depois das 23 horas teria sido motivo suficiente para mantê-los em uma das celas do prédio no centro da cidade, repleto de frases e histórias peculiares. Mas estávamos em 2022, nada além de uma ressaca enorme aconteceria. As nossas diferenças se acentuavam nestas horas. Eu não trocaria o silêncio sentada em algum banco, observando a imagem espetacular na minha frente, por ficar em mesas cheias de estudantes e colegas no Marktplatz. Para mim, era comum nos finais de semana eleger um novo castelo para ser desbravado.

Assim estava agora, sentada em Praga, neste feriado prolongado que estava iniciando. Olhando as torres, imaginei que poderia ter havido alguma princesa presa neste lugar ou ou soldados usando o espaço para observar os inimigos se aproximando. Anotei algumas características do castelo na caderneta de papel que sempre carregava na mochila. Talvez estes apontamentos servissem de ideias no concurso literário o qual eu estava participando na universidade. O sol começou a distribuir as sombras no pátio interno do castelo: hora de voltar. Teria tempo para pensar na viagem, enquanto atravessasse o túnel do tempo. Se eu me apressasse, chegaria na estação antes do apito do próximo trem,

Por Elsa Timm

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Era uma vez

“Ela faria dezesseis anos na semana que vem. A ansiedade crescia porque ia também conhecer o seu noivo. Uma pessoa tão boa, tão responsável… Ela ainda não o tinha visto, mas pegou, aqui e ali, alguns comentários do seu pai sobre ele. Era um bom sujeito, o seu noivo. Cuidava bem dos negócios da família, tinha uma ou duas amantes, nada de mais, mas queria ter uma esposa. Ela conseguia imaginar o seu futuro claramente, com os filhos correndo pela casa, os encontros entre homens no escritório, talvez algum livro de romance embaixo do travesseiro, pego às escondidas da biblioteca. Como seria dormir com alguém? Ruborizou com esse pensamento, deus-me-livre pensar em coisas desse tipo. Ela faria dezesseis anos na semana que vem e já iria se casar! Que sorte a dela! Seria cuidada dali em diante por alguém que, veja só!, ainda nem a conhecia. Será que ele teria um cavalo branco?…”

Por um momento, a imagem do castelo da revista a levou para sua infância, para os contos de fadas que ouvia quando era pequena e que, alguns anos depois, perderam totalmente o sentido pra ela. Ahh, não se fazem mais histórias de princesa como antigamente. Ainda bem.

Por Monique Rodrigues

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Bendito tempo

No túnel do tempo se vislumbram o passado vivido com tanta intensidade em dias, alguns felizes, outros tristes. Os dias da infância risonha de uma menina caçula e loirinha tão protegida e amada. Os dias de uma adolescente rebelde, crítica e questionadora com uma visão objetiva de mundo.  Os dias de uma mulher adulta, ora feliz, ora tristonha, com suas dúvidas,  angústias e buscas. Hoje os dias são de maturidade, tranquilidade e experiências acumuladas em vivências, saudades e lembranças. Os dias de uma mulher que chega no topo da escada da vida!
Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes

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Sobre a percepção do tempo

O borrão laranja dançante ia tomando foco conforme os meus olhos se acostumavam com o ambiente escuro. Havia vultos e sussurros ao meu redor, e eu não conseguia compreender exatamente o que estava acontecendo até que, em um susto, senti alguém colocar a mão sobre meus ombros e questionar-me como havia sido minha jornada. – Que viagem, meu deus?! Eu nem tinha ideia do que se tratava. Disseram-me que eu falava uma língua estranha, que parecia ser antiga; que eu dançava ao redor do fogo e performava animais selvagens. Lembro-me apenas de estar com amigos em uma floresta sombria, para acampar, e que alguém desconhecido apareceu do nada e começou a tocar tambores e queimar ervas. Passaram algo para comermos.

Por Gilberto Broilo