“Futebol moleque” é a imagem desta semana do exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Os escritores são instigados a produzir um texto em prosa e ficcional inspirados nela. Os exercícios são publicados sempre aos domingos, tanto no Facebook quanto no Instagram, e os textos recebidos, e selecionados, às sextas-feiras. Participe! Em caso de dúvida, entre em contato com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.brConfira abaixo os textos recebidos nesta semana.
Futebol moleque
– Não estão pensando em ir jogar futebol com essa chuva, estão?
– Pai, você lembra daquele dia em que o carro estragou no meio da estrada, e você saiu na chuva para consertar? E daquele dia em que a vovó caiu e tivemos que chamar o socorro e saímos todos, abaixo de chuva, para o hospital? E daquele outro dia que você chegou encharcado do trabalho? Por que agora, que é para diversão, não podemos ir na chuva?
– Filho, você entende o sentido da vida… Vão lá e bom futebol.
Por Marilani Bernardes
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Futebol moleque
Descansei o controle remoto das cortinas motorizadas sob a enorme mesa de reuniões, fechei a porta do meu escritório e segui para tomar o elevador. Eu estava no antepenúltimo andar e o destino seria o heliporto. Minha vida era assim: um zigue-zague de viagens pelo Brasil e exterior fechando negócios gigantes de compra, venda e fusão de empresas. Especializei-me nisso e assim eu vivia. A vida particular, de ternura e amor, já tinha sumido há anos.
O elevador custou a chegar e, em fração de segundos, reportei-me à Vila Jurema, a minha vila, a vila onde eu nasci e onde eu aprendi a jogar futebol. Era futebol de várzea, daqueles que a lama tomava conta da gente em dias de chuva. Era futebol de verdade, sem chuteiras, muita esperança e ousadia.
Foi lá que fui fisgado por um olheiro. Foi de lá que saí para o mundo sagrando-me um vencedor, jogando em times de excelência até a idade dar os seus inevitáveis sinais. Com dignidade larguei os campos e, com as contas fartas de dinheiro, enfrentei o mercado com agenciador de empresas, mercado no qual me mantenho em alta velocidade para não perder o ritmo.
Gosto do que faço, até sou um pouco feliz; mas o que eu gostaria mesmo era de estar, neste momento, no campinho da Vila Jurema, com meus amigos queridos, jogando uma pelada das boas e aguardando para, no final, tomar uma gasosa no Bar do Tide.
Por Rosalva Rocha
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Sonhos de jovem
Jamais me esquecerei daquelas noites de verão, quando jogávamos futebol no terreno baldio perto de casa. Éramos onze amigos cheios de sonhos, esperança e fome de sucesso. Alguns de nós foram recrutados por times brasileiros e depois levados aos campeonatos mundiais. Outros, depois dos cursinhos do Senai, conseguiram empregos operacionais em chão de fábrica. Poucos ascenderam ao que parece sucesso intelectual se tornando professores ou advogados (claro que pelo sistema do Prouni). E eu estou aqui, manicure. Diferente deles. Outra pessoa! Mais feliz, talvez.
Por Gilberto Broilo
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Começo
Sempre tive grande apreço pelo começo, aquele tempo que não tem preço e que jamais esqueço.
Os primeiros obstáculos que aprendi a driblar, as ainda incipientes quimeras a se formar, uma jornada que estava a iniciar.
As jogadas imaginadas, criadas e improvisadas, fantasias deliciosamente executadas.
Poças, canos e buracos eram ultrapassados com um misto de habilidade e velocidade, os sonhos esboçavam se tornar realidade.
O que surgiu num campo improvisado brilharia um dia em um belo gramado, de preferência lotado.
Sinto saudades da liberdade que tinha para criar, ousar, improvisar e encantar.
Não existiam tantas táticas, regras e formatações, eu era um mágico a criar ilusões.
Não era por fama e dinheiro, nunca me poupei, sempre me doei por inteiro, de janeiro a janeiro.
Cada segundo foi exclusivamente por prazer, por fazer acontecer, pela delícia de viver.
Por Leonardo Andrade
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Futebol
As nuvens escuras no céu traziam o anúncio de mais chuvas, mas não perderíamos este intervalo entre uma e outra. Precisávamos treinar e nada melhor do que a lama sendo chutada junto com a nossa bola surrada.
No final da rua morava o Edivaldo. Ele, como nós, jogava futebol neste campinho quando era gurizote. Se dera bem o Edinho, como o chamávamos. Importante é que foi convidado para fazer um teste no clube de Futebol da capital. O mais importante é que o tempo passava voando quando ali jogávamos, trazendo alegria e muitas risadas.
Era sempre a mãe do Pedrinho a primeira a nos chamar de volta, como uma espécie de aviso de que logo nossas mães seriam as próximas a lembrar que o campinho não ia desaparecer amanhã. Relutantes, guardávamos a bola para ser usada no dia seguinte e no outro ainda, na melhor parte do dia.
Afinal, para ser feliz não se precisa de muito…
Por Elsa Timm
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Sonho de uma bela infância
Em plena chuva, Ryan joga esperando o futuro chegar. Bate na bola com vigor e alegria, driblando o outro rumo a consagração, vibrando na hora do gol. O que importa é o divertimento, o prazer de brincar, de jogar e sonhar mesmo levando tombos na chuva caindo na risada.
Realizando dancinha em cada jogada, imitando seus ídolos, imaginando um dia vibrar, sendo ele campeão como jogador da nossa seleção. Hoje, Ryan e amigos brincam na lama, driblam a sorte. Divertem-se marcando gols pela vida, felizes. Copiam jogadas eternizadas nos campos, por jogadores renomados, seus ídolos que fazem história com a bola no pé. Com gols narrados com maestria no rádio e televisão: bola para Pedro Vitor, para Chiquinho que passa para Ryan que dribla um, dribla dois atira no gol e sai para o abraço. Goooool. Brasil zil,zil. São momentos marcantes de pura felicidade, encontrar amigos para jogar uma pelada de futebol, muito prazeroso pela magia e fascínio apaixonante, o futebol.
Francisco Aquino
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Inocência
“Olha só aqueles meninos jogando bola” – ela havia pensado em voz alta. – “a felicidade de um instante”.
A imagem era de um filme, não muito antigo, mas que agora parecia de outra época. A pandemia havia chegado e bagunçado tudo. Pelo menos, tinha também trazido filmes pra dentro de casa.
Sua filha nascera junto com esse mundo novo, de máscaras, distâncias, home offices e álcool gel. “Pelo menos ela nem saberá como era antes disso tudo”, ela pensou.
A insegurança quanto ao futuro era dobrada em tempos pandêmicos, não bastavam as preocupações que ela já tinha, antes mesmo da filha nascer.
Na sua própria sala, em frente ao sofá, os meninos continuavam sorridentes chutando a bola. Alheios a tudo, imersos na felicidade que dura exatamente o tempo de um jogo de futebol.
Por Monique Rodrigues
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Futebol de molequeira
Pedro, Felipe e Sávio adoram jogar futebol. Um é goleiro, um joga e o outro defende. Não é futebol profissional. É um futebol de meninos, um futebol moleque. Na molequeira se joga! Futebol é sempre bom! Bom mesmo para estes meninos que jogam até de pé descalço, se divertindo com a bola surrada no pé. O campinho pode ser bem simples. Se for futebol com chuva caindo, a diversão futebolística é garantida. O riso se torna música. A chuva é amiga da folia. A bola velha rola no barro. Se escorrega, cai e levanta! Joga a bola com água, com barro, pedaços da grama ou terra. Não tem ganhador, pois todos são vitoriosos no jogo de futebol moleque com chuva.
Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes