Exercício literário: “Era para ser apenas uma selfie”

Confira os textos recebidos nesta semana, a partir do exercício literário proposto nas redes sociais da Pragmatha Editora aos domingos. O convite é para desenvolver uma narrativa breve a partir da imagem.

Eu não sabia o que era pior

Era para ser apenas uma selfie, quando eu notei, bem no canto da tela, meu ex-marido abraçando o novo boy dele. Impossível eu encontrar a criatura naquela cidade! Não, não era impossível. Baixei o celular com o máximo de calma que consegui, mas, quando comecei a andar, não notei o término da calçada, indo ao chão num tombo instantâneo, desses de vídeos que bombam na internet.

— Você precisa de ajuda? — perguntou o dito boy a mim.

Não consegui responder a ele, pois notei que o ex havia ficado onde estava. Eu não sabia o que era pior: a indiferença do ex, ou a gentileza do boy.

Por Márnei Consul

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Era para ser apenas uma selfie

Eu jamais imaginaria que em um breve levantar de braço para fazer uma selfie eu te enxergaria atrás de mim, no melhor dos ângulos. Teus olhos azuis me fizeram relembrar aquele final de semana que ficou na nossa história há tantos anos. Rompemos nossos medos e enfrentamos um amor impossível, mesmo que para curti-lo somente dois dias.

O local da selfie? Sim, quando cheguei naquela esquina arborizada de Madrid lembrei-me imediatamente de ti. Sabe-se lá se eu não imaginava que poderias estar por lá? Também com as mesmas relembranças?

A gente sabe que a vida tem dessas coisas…

Por Rosalva Rocha

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Selfie

Era pra ser apenas uma selfie. Mas aquela garota linda, fazendo pose na calçada, acabou por provocar um acidente naquela rua movimentada. O jovem que pilotava uma lambreta distraiu-se olhando para ela e colidiu com um carro logo à frente.

— Garoto besta! — reclamou o senhor que dirigia o carro.

— Desculpe, senhor, me distraí! — disse enquanto seguia olhando para a garota.

— Ah, já sei. Estava olhando para ela! Entra logo aqui, Paola! Já provocou um acidente! E não vou mais ficar dando voltas enquanto você tenta fazer essas fotos. Você não é boa nisso!

— É sua filha? — pergunta o rapaz.

— Sim — responde o senhor, enquanto a filha vem se aproximando.

— Sou Maurício, fotógrafo. Não se preocupe, senhor, pago o prejuízo. E posso dar umas dicas para fazer selfie, moça…

Paola corou.

O pai apenas balançou a cabeça, disfarçando um sorriso.

Por Marilani Bernardes

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Era para ser apenas uma selfie

Era seu primeiro dia em Londres e Mara já estava na rua logo cedo, ignorando o friozinho abaixo de dez graus, que era amenizado pelo grosso agasalho que usava.

Às sete horas, após o breakfast, estava na calçada do hotel fazendo a primeira selfie do dia.

Um city tour por alguns pontos turísticos previamente escolhidos para aquele dia, dezenas de fotos, uma parada para o lunch, novas visitações a pontos turísticos, mais fotos e uma esticadinha num happy hour que terminou por volta das vinte e uma horas.

De volta ao hotel, bastante cansada, ainda tirou um tempo para postar fotos nas redes sociais, antes de se recolher para um sono reparador.

No dia seguinte acordou feliz e bem-disposta e às sete horas já estava no restaurante do hotel para o breakfest, quando foi abordada por agentes da Scotland Yard e teve que acompanhá-los até o departamento em Westminster.

Só ao ser interrogada pelo chefe de polícia ficou sabendo do motivo da sua detenção — a publicação, nas redes sociais, de uma foto/flagrante, na qual o primeiro-ministro britânico saía de um hotel, com um disfarce que não impedia o seu reconhecimento, de braços dados com uma amante.

Ao ser questionada sobre a sua motivação política para promoção do escândalo, ela respondeu alarmada:  “Era para ser apenas uma selfie”. 

Por Edmilton Torres 

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Resgate

Era para ser só uma selfie, uma foto corriqueira e banal, mas o efeito foi devastador e total.

Não me reconheci na imagem, mas sim, com certeza era eu, atrás, está a mesma paisagem.

Como eu virei aquele senhor com uma expressão lamentável de dor?

Quando surgiram tantas rugas e marcas de expressão? Sinceramente, não tenho a menor noção.

Eu me tornei tudo que temia, um triste exemplo da destruição do dia a dia.

Fruto de noites mal dormidas, problemas sucessivos e muita preocupação, sou a prova (ainda) viva da degradação.

Não há mais qualquer vestígio daquele menino que queria mudar o mundo, buscar conhecimento profundo, só um rosto macilento e rotundo.

Devastado com minha aparência externa, só pensei em me esconder numa caverna.

Pensei em apagá-la, mas de nada adiantaria pois eu jamais a esqueceria.

Naquele instante, fiz uma promessa, mudaria imediatamente minha vida, não a deixaria assim perdida.

Iria recuperar o que pudesse, resgatar a força da minha essência, recolocá-la para fora com calma, sabedoria e paciência.

Retornaria a minha origem, ao meu ponto inicial e faria uma regeneração consciente e total.

Reavaliaria todos os erros, enganos, atos insanos, desenganos e rever os antigos planos.

Ainda é muito cedo para ser tarde demais, vou reparar todas as avarias dando um tempo no cais e voltar a navegar leve e em paz.

Daqui a um ano voltarei exatamente a este lugar e tenho certeza de que aí tirarei uma selfie para me orgulhar.

Um retrato que mostre quem realmente sou, um ser errante, que com o que viu de si mesmo, um dia se assustou, mas se recuperou, se resgatou e a sua rota, voltou.

Não posso me perder ao que temporariamente estou, devo sempre lembrar e voltar ao que essencialmente sou.

Por Leonardo Andrade

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Selfie 

Para tudo! Preciso registrar esse momento! Pose para cá, pose para lá, ajeita o cabelo, cuidado para não piscar… Ih, saí com um cabeção igual Trakinas! Apaga que tá horrível! Estica o braço para ficar num ângulo melhor, nossa que testa e nariz são esses que nunca percebi! Agora sim, vai ficar ótimo! Putz, não acredito que a foto não ficou enquadrada agora que eu saí bem. Vou só mudar um cadinho de ângulo e voilà estou linda na foto e a paisagem lá atrás aparecendo maravilhosamen… Espera, o que é aquilo lá atrás? Dá um zoom na foto. Aproximar o ângulo do meu rosto me fez fazer uma série de críticas sobre precisar ir a dermatologista até dormir mais por conta das olheiras. Eita! Perdi o foco! Não era em mim que eu queria olhar com mais precisão, mas atrás de mim. O cenário é uma praia belíssima, com um pôr do sol em uma pedra onde o mar bate. Perfeita selfie, mas algo compõe a paisagem e que me deixou grilada. No alto da pedra, uma imagem de uma mulher em pé virada na minha direção. Tento jogar mais zoom na foto, mas a definição fica distorcida. Olho diretamente para a pedra e não avisto absolutamente nada. Onde está ela? Não pode ter sumido desta forma, a pedra nem é tão baixa assim. Ido para o outro lado? Só se jogou no mar. Prefiro nem pensar nesta possibilidade. Quem é essa mulher?! Tento rever a foto na busca de entender o que está acontecendo ou avistar mais gente na pedra. Não há ninguém na pedra, só se chega nela de barco e em dias de mares mais calmos. Começo a pirar na foto. Já sei vou apontar a câmera para o mesmo lugar e usar meu zoom como binóculo. Preciso enxergar algo lá. Nada! Somente uma vegetação cerrada compunha o visual. Cadê a mulher?! Começo a ficar meio apavorada, não há nada na pedra nem similar àquela mulher. Quem é a pessoa que me olha além de mim na minha foto? Está fixamente virada pra mim, com seus cabelos ao vento e seu vestido branco. Que coisa mais louca! Olho tão vidrada nos detalhes da foto que me sinto agora olhando diretamente para mulher. Nota mental: mandar mensagem para a minha terapeuta e… para a mãe de santo também, melhor trabalhar tanto com o mental quanto para o espiritual, sei lá. Nessa troca de olhares imaginária com a mulher aparição/ fantasma, sinto um misto de medo e angústia. Aquele olhar gelado me resfria toda a alma e me sinto petrificada e sugada pela foto. Batem uma tristeza e uma solidão, que me sinto igual a ela, minha companheira de selfie presa numa pedra em alto mar. Não consigo desviar o olhar da foto. Em certos momentos sinto que trocamos de lugar, ora sou ela ora sou eu aqui. Que fim levou aquela mulher e que fim levarei eu, o que nos distancia? Devo ter ficado horas nesse debate mental, mas cronologicamente estou aqui há cinco 5minutos. Minha amiga veio ver o porquê eu demorava tanto para bater uma simples selfie. Mostro-lhe a foto e peço que ela me diga o que ela vê. Você, responde sem demora e com ar debochado. E além de mim? Pergunto mais assertiva. Somente você. Não é possível que ela não perceba a presença da mulher na foto. Dou um zoom na foto e ela continua a me dizer que não há nada além de mim na foto e eu via nitidamente a mulher. Mulher que não parava de olhar e me enfeitiçar para a foto. O quanto aquela pessoa foi feliz e por que estaria naquela pedra? A angústia toma conta de mim e me vejo enlouquecendo. Não tem nada aí, repete minha amiga tensa porque não paro de olhar para a selfie. Outras pessoas também não viram nada na foto. Mas nada nunca mexeu tanto comigo e com os meus sentimentos. Nada seria mais libertador do que tirá-la de lá ou talvez me tirar de lá. Resolvo ir a ilha para buscá-la ou talvez me reencontrar, para que nossas almas sigam em paz. Paro na mesma posição em que a vi na foto, agora sim estamos no nosso oposto, estou em pé no lugar dela e ela? Será que estará no meu? Sinto um vento gelado no pescoço e um grande cheiro de rosas, que vai sumindo e se misturando ao cheiro do mar, me sinto mais calma e radiante. Quando, de repente, sinto alguém segurar meu braço e no susto, abro os olhos e viro meu olhar rapidamente. Minha amiga veio saber por que eu demorava tanto para bater uma simples selfie, estavam todos só me esperando. Reparo ao redor, não estou na ilha e sim na praia, parada com o celular na mão, ao fundo a pedra e o mar batendo e na minha tela a minha selfie. E, na foto, somente eu. 

Por Renata Cavour

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Selfie

Era apenas para ser uma selfie, mas acabou sendo mais do que isso. Adoro tirar selfies! Gosto do meu rosto, já com as marcas do tempo. Meus olhos que sorriem, quando sorrio ou dou risada. Minha boca, tão fina que parece um risco. Meu nariz pontiagudo. Gosto de me ver, olhar, admirar… me surpreso ainda com cada traço e com minha energia. Era apenas para ser uma selfie, porém é muito mais do que isto. É me ver por fora e admirar o que sou por dentro. Ver as marcas que as experiências da vida fizeram, como se cada marca feita no muito rosto tivesse sua própria história do que me tornei. Era apenas para ser uma selfie e não é… é muito mais do que um flash! É a minha essência estampada na selfie, é mulher que me tornei, é a vitória da minha trajetória, é a beleza de quem sou! 

Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes 

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A selfie sem imagem

Ingar acordou abrindo os olhos lentamente. Olhou em volta, não reconheceu o lugar. Parecia ser um hospital. Levantou a mão. Não havia soro e parecia estar inteira ao mexer as pernas. Onde estou? – murmurou em voz baixa.
A porta abriu e um enfermeiro entrou sorrindo.
— Ora, ora, ora, a nossa bela adormecida finalmente acordou.
Ingar tentou sentar-se ao vê-lo, mas a cabeça parecia explodir em mil pedaços, fazendo com que se recostasse novamente.
— Calma, linda moça, vamos devagar – disse ele, procurando ajeitar o travesseiro embaixo de sua cabeça. Estamos esperando você acordar há mais de uma semana. Como é seu nome?
Meu nome, pensou… Meu nome é… Qual é o meu nome? Uma onda de desespero invadiu seu peito e sentiu vontade de sair correndo… Mas para onde correria? Onde estava? Por que estava naquele lugar?
O enfermeiro encheu um copo de água de uma garrafa de vidro que estava na cabeceira.
— Toma um pouco de água. Eu lhe ajudo a sentar – falou enquanto apertava nos botões laterais e a cama se erguia lentamente.

— Onde estou? – perguntou com a voz rouca.
— Estás em uma clínica de reabilitação em Schwäbisch Hall – disse ele. — Trouxemos a senhora depois do acidente em München. Não consegues lembrar nada? – perguntou desta vez trocando o inglês por um alemão com sotaque sulista.
— Nein – respondi. —  Não sei nem o meu nome. Como vim parar aqui?
— Houve um acidente, um carro desgovernado subiu a calçada e bateu na senhora. Parece que externamente houve pequenos arranhões, mas a senhora bateu a cabeça na calçada e ficou desacordada até hoje.
— Quantos dias se passaram? — perguntou, incrédula.
— Faz dez dias hoje, respondeu se levantando da cama onde estivera sentado e abrindo as cortinas da janela.
Uma luz clara invadiu o quarto, fazendo Ingra piscar os olhos.  A copa de árvores floridas amenizou a claridade e aos poucos ela tentou se levantar e ir até a janela, apoiada pelo enfermeiro.
A paisagem era linda. De onde estava conseguia ver o rio que cortava a cidade, com pequenas pontes e flores na margem.
 Encontramos um celular quebrado perto do acidente. Está guardado junto com as suas roupas.
Um celular? — pensou, e uma imagem lhe veio à mente.
— Eu estava fazendo uma selfie, eu lembrei! Perto do Marien Platz.
Será que a memória estava voltando? Mas por mais que se esforçasse, nenhuma imagem foi acrescentada.
Procurou voltar até onde estava a cama, com aspecto desolado e pálida. Sentiu as lágrimas brotaram em seus olhos.
— Eu vou chamar o médico plantonista — disse o enfermeiro se afastando e saindo do quarto.
Ingar voltou à janela e viu sua imagem refletida na vidraça. Os cabelos loiros estavam despenteados, os olhos, de um azul cinzento, cheios de lágrimas. Vestia uma camisola com a inscrição Reha Station 1.
Sentia-se perdida, sem saber o caminho de volta. Quem ela deixara para trás? O que viera fazer em München?
O barulho na porta a tirou dos devaneios. Com a roupa verde clara, entrou o homem mais bonito que já vira. Alto, sorridente. Conseguiu ler seu nome escrito no crachá: Dr Stark.
— Boa Tarde, bela adormecida! Achávamos que teus sonhos eram tão belos que não queria mais acordar! Falou sorrindo enquanto estendia a mão para cumprimentá-la.
Ingard retribuiu o sorriso e acrescentou:
— Talvez… Se eu me lembrasse pelo menos de um deles.
— Não se preocupe, não achamos lesões nos exames que fizemos do seu cérebro. A memória deverá voltar, começando pelas mais antigas. Estás em um centro de reabilitação onde profissionais vão lhe ajudar nesta busca. Sou o médico responsável pelo seu caso. Mas consultas com neuropsicólogos, assistentes sociais serão agendadas.
E se ela não quisesse lembrar da vida que teve? E se algo horrível tivesse acontecido e a sua memória preferisse deixar o passado esquecido?
No outro dia uma psicóloga a convidou para olhar uma sucessão de imagens, pedindo que comentasse se alguma lhe trouxesse a menor lembrança. Não tiveram muito êxito até aparecer uma imagem de uma pessoa idosa, sorrindo, com os cabelos brancos, como se fossem flocos de algodão.
— Minha avó — respondeu baixinho.
— O próximo bloco de imagens que vamos ver amanhã será de comportamentos — disse a psicóloga se levantando e dirigindo-se para a porta. Aproveite o dia para passear, não convém cansá-la tanto hoje.
Ingra saiu do prédio e caminhou até um espaço onde, em uma parede cheia de plantas verdes, corria água em toda a sua extensão. Escolheu um banco em frente e ficou admirando o lugar. Fechou os olhos e deixou o barulho da água escorrendo penetrar em seus sentidos, sentindo uma paz imensa.
No outro dia tiveram mais sucesso com o reconhecimento das imagens. Em uma cena, o casal parecia estar gritando um com o outro e Ingra disse:
— Meus pais brigaram comigo.

Devagar a cortina de lembranças se abriu e Ingra podia ouvir seu pai gritando:
— Não quero conhecê-la. Nem interessa o quanto gostas dela. Se fores a München atrás dela, saibas que não vais levar um centavo meu.
Ingra entrara no seu quarto. Juntou o dinheiro que guardara e foi até a estação de trem com uma pequena mala. Comprou uma passagem no primeiro trem que iria a München. Com o coração apertado, não entendia como os pais podiam ser tão preconceituosos. A única de sua família que acolhera Ingra quando apresentou a namorada Julie foi a avó. Ela era assim como a foto que a psicóloga lhe mostrara: cabelos branquinhos, olhos bondosos em um rosto sorridente. Sua avó tinha um pequeno apartamento perto do Englische Garden em München e, com boa vontade, o emprestara para a sua neta recomeçar a vida com a namorada.
Julie havia recebido uma proposta de trabalho que começaria em duas semanas. Ambas estavam felizes por surgir uma oportunidade para morarem juntas, depois de um ano de namoro.
Ingra agradeceu a psicóloga por lhe ajudar a recompor os pedaços do quebra-cabeças de sua vida. Os pais não haviam lhe procurado devido à discussão que tiveram. Sua avó devia acreditar que Ingra estava arrumando as suas bagagens para a mudança e Julie… Sim, pelas suas contas, ela chegaria no sábado e nem imaginava o que tinha acontecido.
No outro dia, Ingra se despediu de todos, agradecendo pela ajuda. Retornou para a estação e pegou um trem para München. Conseguira um contato com a Julie, explicando sobre o acidente. Com o dinheiro da passagem que esta lhe enviou, retornou para a cidade onde começaria a maior de sua aventura. A aventura da vida a dois.
Por Elsa Timm

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Eu em Paris!

Eu em Paris, apresentando ao mundo o meu novo universo. Acreditei e ainda acrescentei detalhes ao espaço que para mim era único. Fissurado pela beleza do lugar, senti-me o mais poderoso dos inocentes.

Pela primeira vez pude realizar meu sonho de ser fotógrafo internacional e com sucesso.

Mas como eu estava com minha carreira em construção não era o momento para arriscar e nem esbanjar. Porque, como dizem os sábios, o que levamos anos para concretizar pode em um segundo se desmoronar.

Cauteloso com minhas ideias e atitudes, observando cada detalhe para obter ângulos perfeitos, deparei-me com momento espetacular. Seus traços impecáveis, sorriso inocente, olhar sedutor, gestos simples em movimentos angelicais. Era a modelo dos meus sonhos.

Aproximei-me, conversamos, contei-lhe dos meus projetos e convidei-a para trabalhar comigo na minha agência. E ela me respondeu: era para ser apenas uma selfie!   

Por Nelci Bach

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No bosque

Era para ser apenas uma selfie, mas foi além disso. Eu estava num bosque de cerejeiras e ipês, muito lindo. Como tinha algumas pessoas, procurei um local mais afastado, para assim ficar à vontade para fazer meu autorretrato. Fiz, olhei e gostei, logo coloquei no story do Insta. Passado um tempinho, a visualização foi aumentando, nossa, realmente ficou top no bosque — pensei. Olhei novamente, e foi aumentando, isso nunca havia acontecido, tantas visualizações, tão rápido. Não estava entendendo nada. Até minha lista de seguidores foi aumentando, entendi menos ainda. Olhei minha selfie, resolvi colocar meus óculos para enxergar melhor, até levei um susto. Caramba, agora entendi o que estava acontecendo… putz. Não era o meu sorriso que estava chamando a atenção de todos. Sem perceber, pois, estava sem óculos, havia capturado um camarada bem robusto pagando um boquete em outro, um pouco franzino. Estavam no meio do bosque.   

Por Giovana Schneider