Confira os textos recebidos nesta semana, a partir do exercício literário proposto nas redes sociais da Pragmatha Editora aos domingos. O convite é para desenvolver uma narrativa breve a partir da imgem.
O buraco da janela
Não lembro mais quando começou esta guerra. Sei que estava indo para a escola, levando meus filhos pequenos, quando as sirenes soaram. Fiquei perplexa na direção do carro, pois os avisos que recebíamos eram de que estávamos relativamente seguros nesta região.
— Mamãe, o que é isto? — perguntou minha filha de quatro anos, enquanto o meu menino olhava à volta ao lado dela, sem entender.
— Deve ser o apito do trem — respondi, pensando no que fazer.
Retornei com o carro na primeira rua e voltei para casa. Não tínhamos chegado à sala quando a bomba caiu nos arredores, quebrando vidraças e prédios.
Olhei para a nossa porta, algum estilhaço havia quebrado parte dela, deixando uma abertura onde o vento frio entrava sem piedade.
Levei as crianças até seus quartos, tentando minimizar o que viria a ser o nosso pior pesadelo. A guerra havia chegado até nós.
Juntamos nossas roupas básicas, casacos e o que as crianças mais gostavam, o ursinho e o spider man.
Levei eles para o porão da casa, onde havia deixado preventivamente utensílios básicos, que sabia serem indispensáveis se a guerra se estendesse e chegasse até a nossa cidade.
— Não quero ficar aqui — disse minha filha, antes que uma segunda bomba caísse ainda mais perto, soltando partículas de madeira do teto.
Segurei meus filhos perto de mim, enquanto sirenes tocavam e bombas caíam. Chorei mais do que eles, por propiciar um mundo assim, com tanta violência, para quem mais amava.
Adormecemos cansados pela vigilância, sem saber quantas horas haviam se passado.
Uma luz na fresta mostrava que devia ser dia lá fora. Acomodei meus filhos nas cobertas que trouxera e subi as escadas devagar, até chegar na sala.
Abri lentamente o que sobrou da porta, descendo as escadas sem acreditar no que via. Nossa rua parecia uma cena apocalíptica. Árvores caídas, prédios enfumaçados, objetos caídos por todos os lugares. Vi pessoas chorando, caminhando, elevando as mãos para os céus.
Me virei para a entrada da minha casa e, pelo buraco da janela, dois rostinhos espiavam com os olhos arregalados. Havíamos sobrevivido. Meu mundo ainda estava lá.
Por Elsa Timm
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Entrada proibida
No velho sobrado abandonado, da noite para o dia, apareceu um cartaz na porta principal: “Perigo! Entrada proibida”.
Alguns ficaram curiosos. Para o quarteto de adolescentes, famoso por viver fazendo arruaças, foi mais um desafio.
— Vamos entrar! — disse um deles!
— Eu não vou! — disse outro.
— Deixa de ser frouxo! — zombaram os outros.
E entraram.
Vinte e quatro horas depois, os quatro estavam sendo procurados por seus familiares. Foram à polícia comunicar os desaparecimentos.
A polícia lembrou do sobrado e do cartaz. A muito custo e lutando contra o tempo, os policiais conseguiram entrar em contato com um familiar distante dos proprietários, mas esse nada sabia sobre a advertência contida na porta.
Armados, os policiais decidiram entrar no local, a fim de procurar o quarteto. Deviam estar aprontando alguma.
Vasculharam o local e não encontraram ninguém.
Vinte anos já se passaram, e os quatro garotos nunca foram encontrados. Nenhuma pista.
Por Marilani Bernardes
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Cuidado, perigo!
Lavei a minha alma com este recadinho afixado na porta da nossa geladeira hoje bem cedinho. Espero que ele entenda a sutileza tão logo apareça para o café da manhã. Eu não sou boba não. Já percebi que há mensagens duvidosas no seu whatsapp. Então que, pelo menos, ele coloque uma senha para que eu não veja. Porque, se eu pegar qualquer coisa, juro que o coloco porta fora de casa.
Melhor prevenir …
Por Rosalva Rocha
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Destemido
Viver é um risco, é preciso coragem para sair do abrigo e enfrentar o perigo.
Ninguém sabe o que há depois de cada curva ou debaixo da água turva.
É um mistério o que existe no escuro ou por trás do muro.
A esperança tenta se equilibrar com a insegurança na oscilante balança.
Estamos sempre na corda bamba sem rede, no deserto com sede e pressionados contra a parede.
Removendo obstáculos que impedem nossa passagem para prosseguirmos numa desconhecida viagem.
O plano é vencer barreiras, cachoeiras e corredeiras e chegar ao oceano, salvo qualquer engano.
Invariavelmente por um fio, cada instante é um imenso desafio para o nosso frágil rio.
Ao longo das passadas, vejo portas arrobadas, vidraças estilhaçadas e janelas quebradas.
Não posso parar, sei onde preciso chegar e nada pode me segurar.
Para alcançar o mar é necessário vencer a areia, ignorar o canto da sereia, escapar da perigosa teia e pulsar o sangue na veia.
Talvez o grande segredo seja controlar o medo; aprendi na pele desde cedo ao não ter receio de reescrever meu enredo.
Por Leonardo Andrade
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O pavor que me sobreveio
Quando finalmente cheguei à casa depois de cruzar a cidade dirigindo apressadamente, o que mais temia já havia acontecido. Alguém arrombou a porta da garagem e levou o que eu mais tinha de precioso: o baú de carvalho que herdei do meu avô, onde, hoje, escondia todas aquelas adagas da Golden Dawn.
Gilberto Broilo
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O estrondo
Cuidado, perigo! Um barulho estrondoso, um ruído de vidros quebrados, uma pedra, um pássaro ou alguma coisa na janela! Todos se assustaram, alguns correram, outros gritaram. O que foi este barulho? Ninguém sabia! Parecia que a janela tinha vindo abaixo com tanto barulho. Todos se dirigiram ao local do estrondo. Lá estava a janela quebrada, estilhaçada, detonada! Um grande estrago e os vidros espalhados em pequenos pedaços. Todo cuidado era pouco com aquela bagunça. Os vidros quebrados poderiam cortar. Ninguém mexe em nada. Procurando o que haviam jogado contra a janela. Lá estava… quieta, inocente e redonda! Os vidros quebrados e do lado, a culpada ou manipulada: bola de futebol.
Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes