Exercício literário: “Amor”

Confira os textos recebidos nesta semana, a partir do exercício literário proposto nas redes sociais da Pragmatha Editora. O convite é para desenvolver uma narrativa breve a partir da imgem.

Amor

E eu, que duvidava que naquela noite quente, naquele lugar acolhedor, com aquele vinho tinto maravilhoso, eu ficaria com você? Justo você, que parecia o avesso do que eu pensava para aquela noite maravilhosa! O avesso da minha determinação em encontrar alguém legal para compartilhar a noite. O avesso físico que eu buscava.

Subitamente, sem perceber, ao findar a noite, sem ninguém que me atraísse ou fosse atraído por mim, decidi olhar com seriedade para o seu sorriso maroto e olhar de quem estava à beira de um precipício. Com dó pensei em salvá-lo, mesmo já estando com várias doses de whisky na cabeça, salvá-lo para fazer valer aquela noite que prometia tanto e nada rendeu.

Quem disse que não rendeu?

Hoje estou aqui, acordando ao teu lado há 25 anos, com as malas prontas para viajarmos para uma segunda lua de mel.

Eu não tinha a menor noção de que chegaríamos até aqui, mesmo você sendo o avesso… Quem sabe o avesso do avesso?

Por Rosalva Rocha

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É o amor

Nunca esqueci o dia em que deixei o país. Fui contrariada, chorando e abandonando tudo que eu conhecia nos meus 16 anos de vida. Carregando a mala pesada, não queria ouvir meu pai tentando me consolar, apontando todos os motivos pelos quais seríamos muito felizes em sua terra natal, a Itália. Meus amigos, minha casa e meu primeiro amor ficariam aqui, onde eu também queria ficar. Nem a longa viagem num navio imenso diminuiu minha tristeza. Sempre achei que a segunda grande guerra mundial se restringiria à Europa, mas ela trouxe consequências para a minha família. Deste dia em diante, aprendi o significado da palavra saudade.

Os anos se passaram e o tempo também amenizou o que me parecia ser uma tristeza infinita. Enchi minha vida com a rotina dos filhos que tive, do marido que conheci na maturidade e precocemente nos deixou.

Cinquenta anos depois, lá estava eu novamente sentada, desta vez em um avião, fazendo o caminho inverso. Voltaria, não como aquela adolescente cheia de sonhos, mas como uma mulher madura que nunca esqueceu os momentos felizes que viveu no Brasil.

Planejei, com amigos que a vida me presenteou, meu mês de férias na minha terra natal. Não sabia se encontraria meu primeiro amor, se lembraria de mim, se ambos nos reconheceríamos. Sabia pouco de sua vida, nem se iria me encontrar onde um dia fora minha casa distante da cidade, ou se aquele encontro faria algum sentido para ele.

Uma amiga me levou até lá, mais cedo do que combinara. A velha casa estava do mesmo jeito que eu lembrava. Alguns pontos descascando a pintura. Passei os dedos nas paredes com o meu pensamento voltado para cada ano que ali vivi. Os objetos que circundavam a casa me mostravam que alguma família morava lá atualmente. Sentei em uma pedra numa elevação no pátio sem cercas e as lembranças povoaram minha mente. Como havia sido feliz naquele lugar! Um pouco mais afastada, uma figueira crescera imensamente e na sua sombra, costumava passar minhas tardes com o meu amor.

Levantei-me devagar, afinal nenhum movimento me era tão fácil atualmente. Caminhando até a árvore, um carro parou na estrada próxima. Um senhor de cabelos brancos desceu, olhando em volta, e foi se aproximando da árvore. Fiquei completamente muda ali parada. A carta que enviei meses atrás chegara. Significava que ele ainda morava no mesmo lugar, não muito longe dali.

Ele diminuiu os passos quando me viu parada e depois de alguns instantes abriu o sorriso que me encantara por tantos anos e estendeu os braços, vindo ao meu encontro. Com o coração saindo do peito, fui me aproximando. Um longo abraço diminuiu a saudade e no silêncio falamos tudo que precisava ser dito, meio século depois.

Por Elsa Timm

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Amor: Em construção

Dedos entrelaçados, sonhos misturados, desejos embolados.

Olhares que se buscam e se acham, peças que perfeitamente se encaixam.

Afluentes que se encontram no rio e juntos seguem um único desafio.

Pernas que acertam o passo, a medida do compasso e o mais belo laço.

A construção dos alicerces a dois, a preparação para o imediatamente depois.

A retirada recíproca dos obstáculos do caminho, a poda de cada doloroso espinho, o compartilhar da taça de vinho.

O princípio, o fim e todo meio, o equilíbrio entre o acelerador e o freio, a entrega sem receio.

O ensaio meticuloso de cada dança, o exaltar da renovada esperança, o futuro espelhado na eventual criança.

A retirada dos muros, a chegada da luz aos cantos escuros, o aparecimento dos frutos maduros e o relaxamento dos pensamentos inflexíveis e duros.

A vida fluindo com mais leveza, o surgimento de novas cores na natureza, a aproximação da quase inatingível certeza.

O preenchimento das frestas, o aparar das arestas e as múltiplas festas.

A vida mais leve feito floco de neve, mas paradoxalmente menos breve.

O topo, o ápice, o sagrado cálice.

Por Leonardo Andrade

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As tentativas do amor
Celina e Marcos se conheceram na faculdade. Estudavam na mesma turma. Logo começou uma amizade. Mas para Marcos passou a ser algo mais.
Criou coragem e se declarou, ao que Celina disse que não teria como, pois só via nele um amigo.
E Marcos insistiu. Uma, duas, cinco vezes. E Celina, por sua vez, insistindo na amizade. E ele tentou. Mais doze vezes.
Por fim desistiu. Trancou a faculdade, para não mais encontrá-la. Afastou-se. Entrou em depressão.
Tempos depois Celina soube por uma amiga que Marcos estava namorando. Sentiu um desconforto ao saber. Só então percebeu que o amava.
E foi procurar Marcos. Se declarou. Ele, agora, dizia que nada mais poderia ser do que uma amiga. E ela insistiu. Uma, duas, cinco vezes. E Marcos insistindo na amizade.
Questionou Marcos sobre suas chances, ao que ele lhe sugeriu que ela tentasse. Mais doze vezes.

Por Marilani Bernardes

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O espelho do tempo

Quando olhava para ela, sentia o maior desejo. Todos os meus sentidos se magnetizavam aos dela. Meu coração disparava e tinha a certeza de que a queria para sempre comigo. Amei o jeito de como ela colocava o cabelo atrás da orelha; como a meia do pé direito estava, sem ser percebida, um pouco sobre a calça jeans; como as mãos dançavam enquanto falava… adorava tudo. Ela se chamava Clara, ela tinha 18 anos nessa época. Era tão individual, independente e cheia de amor próprio. Hoje, quando olho para essa Clara, percebo que ainda a amo, mesmo sendo a velha versão dela. 

Por Gilberto Broilo

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A presença do amor

Parece invisível… acredite não! Que se pode perceber! Se consegue ver num olhar, seja ele profundo ou de soslaio; num gesto, ao tocar ou acariciar; no jeito de sorrir, sorriso simples ou com um toque de sensualidade; num roçar de peles, num arrepio, num voar de borboletas no estômago. A presença do amor é real, verdadeira e intensa! Numa conversa, numa frase, numa fala, numa poesia, num bilhetinho, numa flor, num carinho! Numa alquimia de seres, pode ser apenas afetiva ou corporal, num relacionamento amoroso, numa relação de amizade, o amor está presente! 

Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes

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Encontro

            Foi um encontro de almas. Não poderia ter outra explicação. Elas se reconheceram, de alguma forma, com certeza. Aguardavam com ansiedade. Quando os olhares se cruzaram, o tempo por um breve momento, deu uma parada. Foram muitos desencontros, mas agora nada poderia dar errado. Foi uma atração mágica. Uma energia eclodiu. A felicidade veio plena. O encontro aconteceu. Caminhavam juntos, felizes… A vida agora estava completa. Um grande dia chegou com motivos de amor.

Por Giovana Schneider

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No Dia dos Namorados 

 Ele disse que me amava quando eu contei a ele que estava grávida. Deixei para fazer isso no Dia dos Namorados, para ser uma surpresa. Lembro que eu estava nervosa, tremendo, toda sem jeito. Depois que dei a notícia, ele me abraçou e, além de declarar seu amor por mim, falou que tudo ficaria bem. 

Uma semana após, ele sumiu. Nunca mais o vi. Isso já faz 27 anos. E, por 27 malditos anos, eu não consigo olhar direito para a cara desse guri fruto daquele relacionamento! 

Márnei Consul