Exercício literário: “À deriva em alto mar”

À deriva em alto mar

Martin sempre fora um homem dos mares. Certa vez ele me disse que gostaria de ser sepultado no oceano.

Conhecemo-nos e nos tornamos amigos durante os anos do Ensino Médio, quando fomos colegas de classe por quatro anos.

Naquele tempo, eu sempre o ouvia repetir que iria se tornar marinheiro e, quem sabe, um dia, comandante de um navio.

Martin era tão apaixonado pelo mar e por embarcações, que devorava todos os livros e filmes que encontrava sobre o tema.

Depois que terminamos o curso secundário, eu fui para a universidade e ele ingressou na Marinha Mercante, realizando, assim, o seu grande sonho.

A partir de então nos víamos raramente. Passávamos meses e até anos sem nos encontrarmos, mas Martin nunca deixara de se comunicar comigo. Eu sempre recebia mensagens de texto e fotografias dos lugares por onde ele passeava, quando o seu navio atracava em algum porto.

Martin nunca se casara nem constituíra família. Quando questionado sobre isso, ele dizia que no seu coração só havia espaço para um amor e esse já fora ocupado pelo mar.

Também era um homem de poucos amigos, talvez condicionado pela vida que levava, sempre a bordo de um navio pelos mares do mundo. Afora alguns relacionamentos fortuitos, em cidades portuárias onde o seu navio atracava, nunca se afeiçoara profundamente por ninguém. 

Entre os seus poucos amigos figuravam eu e Douglas, um marinheiro que Martin dizia ser um irmão que o mar lhe presenteara.  Estavam sempre juntos, no trabalho e nos dias de folga, quando saíam em busca de diversão. Eu até o conhecia pelas fotografias que Martin sempre me enviava.

Hoje, ao verificar as mensagens recebidas pelo WhatsApp, encontrei uma mensagem de Douglas, o que achei estranho, pois ele nunca se comunicara diretamente comigo.

Abri a mensagem com um misto de curiosidade e apreensão e fiquei chocado com o que li.

— Reze pela alma do seu amigo Martin. O nosso navio afundou há dois dias. A noite estava muito escura e não sabemos o que aconteceu, mas ao sermos resgatados ele não estava entre os sobreviventes. Pedaços do seu bote salva-vidas foram avistados, boiando, à deriva em alto mar.

Por Edmilton Torres 

……………………………………………………………………

Despreparado

Daqui não avisto terra em nenhum lugar, por todos os cantos só vejo mar, mar e mar.

Apenas tons de azul a me cercar, nada nem ninguém a se registrar.

Estou à deriva em alto mar, não lembro como cheguei aqui e não sei como voltar.

Ignorei as regras mais básicas de navegação, rasguei mapas e não fiz planos para a missão.

Sentindo-me aprisionado, levantei âncora sem pensar, só esqueci de me preparar para navegar.

Não estudei o tempo, o vento, nem as condições, não cogitei tempestades nem monções, abandonei no cais minhas sábias razões.

Sujeito ao sabor das marés, vivendo este imenso revés, sonho com um praia onde possa colocar meus pés.

Agora entendo que o mergulho em si mesmo é vital, desconhecendo-me, estarei insatisfeito em qualquer local e agir por impulso, raramente leva a um bom final.

O porto seguro de onde tanto quis fugir, neste momento, é exatamente para onde quero ir.

Espero ser resgatado e ter uma nova oportunidade para modificar essa complicada realidade.

Por Leonardo Andrade

……………………………………………………………………………

À deriva em alto mar

Crescemos na beira daquele rio lamacento. Em suas margens estão depositadas as melhores lembranças da minha infância, seja pelas pescarias que fazíamos ou o trampolim que improvisávamos nas tardes quentes de verão, quando passávamos nadando ou brincando com toda a vizinhança.

Meu pai era pescador e dele herdei minha paixão por canoagem. O primeiro caiaque que ganhei em um aniversário só estimulou meu treinamento para que pudesse fazer percursos mais longos e, quem sabe, chegar ao mar. Minha função de ajudante do meu pai me permitiu navegar, mas não evitou que, anos mais tarde, num Jukung, eu estivesse à deriva, longe da costa, acompanhado por um tubarão.

Meu pai, vendo as nuvens escuras no horizonte, começou a perguntar aos meus irmãos que horas eu havia saído para meu treinamento diário. Sem explicar mais nada, correu até seu barco e iniciou as buscas por mim.

O rio desembocava no mar depois de 500 metros. Assim, venceu a distância em poucos minutos e se lançou no oceano, rezando para que a minha rota fosse a mesma que costumava fazer.

Tentei manter a calma com o tubarão circulando na minha volta, rezando para que tivesse achado um cardume de sardinhas, antes de me encontrar. O tempo parecia infinitamente longo. Comecei a rezar e pedir que, se Deus me livrasse desta enrascada, eu iria pagar alguma promessa que aparecesse.

O barulho do motor do barco do meu pai me pareceu uma sinfonia executada por anjos. Eu mal acreditei quando o vi se aproximando. Não saberia dizer quanto tempo me mantive imóvel e aterrorizado, até que a corda que ele atirou e me livrou deste estupor.

Ele me puxou até seu barco e pulei nele, rebocando o jukung. Voltamos em silêncio, vendo o tubarão se afastar devagar. Ergui os olhos para o céu enquanto grossos pingos de chuva molhavam meu rosto. Agradeci a Deus pela oportunidade que estava me dando e ao meu pai que, tomado de amor por mim, me salvou.

Por Elsa Timm

…………………………………………………………………….

Imensidão azul

Na imensidão do mar encontram-se os irmãos Alex Chagas e Assis Hélio pescando para suprir de alimento a vida e ter prazer de sentisse uma pequena partícula deste mar azul. Estão há dias à deriva, mar adentro. O pesqueiro perde o leme e a âncora prende numa pedra, enquanto um mergulha, vendo tubarão se aproximar. Mas consegue a tempo soltar o barco e voltar à proa. O outro consegue consertar o leme. Por experiência, não se desespera porque sabe sair de adversidades e retornar triunfalmente para tocar a sobrevivência.

Constatam às vezes o Poseidon em fúria, mas no fundo do mar a vida flui tranquilamente, apesar de ver-se alguns sinais de poluição. É a mão humana fazendo mal a si mesmo. Na superfície, os irmãos deslumbram um quadro lindo de se ver: orcas dando saltos acrobáticos, golfinhos seguindo o passeio, baleias seguindo cardume, outros peixes acompanhando o barco, esperando alimentos, gaivotas voando baixo, permitindo Alex Chagas e Assis Hélio tocá-las em pleno voo. Eles riem maravilhados com o espetáculo criado para os seres desfrutarem da mãe natureza, senhora de todas as coisas. 

Balançam nas ondas dos mares, flutuando entre as águas no seu pequeno barco, cortando horizontes. Mas outra tempestade os atinge. A luta é pela sobrevivência. Perdem carga, pescados são jogados ao mar. Veem outro barco, mas não pode salvá-lo. O comandante do convés bate continência, sendo tragado pelo mar em fúria e os dois lutam  até que o oceano se acalma. Abatidos, dizem, foi por pouco.

Por Francisco Aquino

……………………………………………………………………..

Numa noite, o barco e o tubarão

Na noite escura em alto mar, um barco à deriva. Não se vê ninguém, não se ouve nada! O murmúrio do mar é o único barulho. Se alguém está no barco, está com muito medo, porque seu silêncio é ensurdecedor! O medo o paralisou! No fundo do mar, um tubarão espia. Nada devagar, em círculo, sem agitação. Está com fome. Pressente algo, porque viu o barco parado. Sabe que ali tem comida. É esperto e espera a sua hora. Vai e vem sem pressa. O barco continua parado na mesma posição. Nenhum barulho, voz, ruído, movimento denunciam a presença de alguém ali. Na noite escura, um barco vazio, o tubarão nada. O silêncio permanece!

Por Roselena de Fátima Nunes Fagundes

…………………………………………………………………………

Real

            Sim, sei que um dia todos já ficamos assim, sem rumo, sem prumo. Como se estivéssemos em alto mar, e um tubarão a nos rodear.

            Não fique à deriva. Não deixe a prostração te pegar.

            Não deixe sua vida devanear. Sei que as coisas não estão fáceis, e sem perceber, nos deixamos levar…

            Mas ficar parados olhando, não vai adiantar.

            Se não tiver leme, arranje um remo, e reme para algum lugar…o que não pode acontecer é deixar o tubarão te pegar, sem você lutar.

            Ninguém está imune…

            As palavras daquela psicóloga não saíam de sua cabeça. Putz, ela parecia até que havia previsto o que iria acontecer — pensou. Que loucura, o negócio agora era real, aquele tubarão era real. Só havia resolvido sair para pescar, e se distrair, fugir da prostração. Nunca imaginou que ficaria à deriva, na real.

            Por Giovana Schneider

………………………………………………………………..

À deriva em alto-mar

Pela primeira vez Júlia quis sair com eles para a pesca. Insistiu em ir na embarcação.

Túlio não gostou da ideia. Era sempre um risco.

– Quero ir, Túlio! Agora que estamos noivos não desgrudo de ti!

Por fim, Túlio aceitou.

E lá seguiram os três.

O tempo virou, mudaram os ventos. Havia ameaça de tubarões. O barco estava à deriva. O medo tomou conta.

– Vamos morrer! – Júlia gritava desesperada! Quero casar agora!

– Pensando nisso agora, Júlia?

– Sim. Aproveitando que o padre Gregório está aqui conosco. Se o pior acontecer, morreremos casados.

E o padre Gregório fez o casamento ali mesmo.

E rumaram à eternidade, abençoados em matrimônio.

Por Marilani dos Santos Bernardes

……………………………………………………………………………..

Fim da estrada

Acordei mergulhada em dúvidas.

Não! em certezas!

Todas elas em relação a ti, a pessoa que te tornaste com o passar dos anos. Não és nem de longe o homem que conheci, que aprendi a amar, que me conquistou com o seu jeito tímido.

A vida que conquistaste nestes anos todos não foi vida; foi dinheiro. Dinheiro que comprou, subornou e eliminou muita gente. Só a mim não conseguiste comprar, porque eu te conheço por dentro, conheço toda gana por poder que foste acumulando com o passar dos anos. Só eu sei o tanto que tiveste que perder para seguires nesse caminho tortuoso e sem volta. Só eu mesma conseguiria apaziguar tantas confusões criadas por ti que não surtiram qualquer efeito senão o dinheiro.

Hoje eu te vejo só, velho, acabado, sem condições psíquicas de administrar o imenso patrimônio que tens. Sem visão, audição e mesmo percepção, estás em cima de uma cama olhando para o nada, como se nada mais tivesse sentido. Viraste nada.

E agora, quando precisas de mim eu não o quero mais. Estou à deriva em alto mar, também velha e sem energia para navegar até o continente mais próximo.

Hoje consigo enxergar que o meu fim está sendo abreviado por pura ausência de atitude.

E, infelizmente, eu também virei nada.

Por Rosalva Rocha