Garante um ditado popular que não vemos o mundo como ele é, mas como somos. Sob a lente da literatura, nada mais verdadeiro. O escritor está sempre falando de si e do que passa em sua imaginação e fantasia. Ele escreve a partir do que é, do que gostaria de ser, daquilo que rejeita em si e nos outros com toda força de sua alma, e também a partir da maneira como lê o mundo, as pessoas e tudo aquilo que lhe diz ou não respeito.
O escritor é uma espécie de curioso, de antropólogo da experiência humana. A sua e a dos outros a qualquer momento podem ser objetos de criação literária. Suas percepções, que abstrai dos acontecimentos cotidianos seus e alheios, o conectam ao mundo de possibilidades que se expressa nas narrativas ficcionais, com o compromisso, ou não, de verossimilhança, seja ela interna, seja ela externa.
Em “À luz do escuro”, tudo isso é multiplicado por dez! É o reflexo perfeito do grupo que o escreveu, em suas mais complexas nuances de jeitos, estilos, vivências e abstrações. Mas o mais importante: é o reflexo sobretudo da plasticidade e capacidade criativa de cada um dos coautores naquilo que chamamos de “papel existencial escritor”… De um grupo tão heterogêneo, e por isso rico em olhares e perspectivas a partir de suas próprias historicidades, só poderia se esperar um trabalho como este – de fôlego e com aquele toque fundamental nas grandes obras: a sensibilidade e o cuidado no tocar o outro.
Penso que a (exitosa) construção compartilhada seja a principal marca de “À luz do escuro”, afora a qualidade literária, expressa no enredo, na riqueza psicológica de cada um dos personagens, na brilhante costura de todas as trajetórias a partir de um evento simbólico na narrativa, garantindo assim a unidade da obra.
“À luz do escuro” é o livro que eu gostaria de ler durante uma tarde chuvosa no Bistrô Chapéu de Palha, em São Lourenço do Sul, enquanto faço anotações do quanto me vejo ou me nego em cada um dos personagens. Quais eu convidaria para um café? Com quais eu conversaria sobre amenidades? E sobre assuntos mais profundos da existência humana, com quais personagens eu me abriria? Quem eu chamaria para um rolê de final de tarde? Ou então para um piquenique na praça central da cidade? Quem sabe assistir algum filme só para curtir o tempo passar? Certamente não dispensaria um convite para uma vivência no campo!
Por isso tudo, querida leitora e estimado leitor, em “À luz do escuro” os escritores não falam somente de si e de seu imaginário, mas de mim e de você!
Desejo uma ótima leitura!
Sandra Veroneze
Editora
- Prefácio produzido para a obra “À luz do escuro”, publicado pela Pragmatha Editora, com organização de Cleia Dröse e coautoria de Arita Martins Corrêa, Jefferson Dieckmann, Loiva Inez Tessmer Büttow, Márcia Tomazetti, Marisa Burigo, Nelci Griesbach (Nelci Bach), Soleni Peres Heiden, Susani de Castro Pitano, Verena R. Becker e Vitória Oliveira.