“Este romance mudou minha visão de vida e me incentiva a realizar novos sonhos”

A escritora Verena Rogowski Becker publicou recentemente, pela Pragmatha, a obra “Coragem – Substantivo feminino”. Trata-se de uma história de superação, de amor e luta em meio à Primeira Guerra Mundial, inspirado em fatos reais. Nesta entrevista, a autora fala sobre suas inspirações e processos criativos. Para conhecer a obra, clique aqui: https://pragmatha.com.br/produto/coragem-substantivo-feminino/

Como surgiu a ideia do livro?

Por muitos anos tenho guardado numa pasta que chamo “Fiapos meus”. São frases ou pequenos textos de lembranças de algum momento ou lugar em que passei em minha vida.  Coisas que vejo no dia a dia, pessoas, a água da chuva, um pingo na torneira, a lagoa ou um rio. O vento forte levando as folhas ou o chapéu de uma pessoa, erguendo vestidos ou mansamente tocando meus cabelos ou de uma cabeleira linda de alguém. As histórias de vida dos meus avós, do meu sogro e seus causos engraçados, da minha sogra e sua juventude, da minha mãe e seu grande amor pelo meu pai ligado à sua religiosidade e dele em suas aventuras de caça e pesca, além dos atalhos que tomava em nossas viagens deixando sempre uma aventura para ser contada. Parece que ficam ali na espreita para se tornarem parte do que escrevo. Em “Coragem – Substantivo feminino” busquei esses fiapos da vida da minha Oma (avó paterna), sua vivência na primeira guerra mundial, coisas que ela contava quando eu ia dormir na casa dela. Sempre preferi suas aventuras pessoais aos contos de Andersen. Então resolvi misturar realidade e ficção, o que a editora Sandra Veroneze entendeu com muita precisão, e me auxiliou nos momentos de indecisão.

Foi quanto tempo e dedicação até ele ficar pronto?

Trabalhei no livro por quase um ano. Usei meus conhecimentos adquiridos em cursinhos de escrita criativa e um jogo que comprei de um editor. O livro não foi aceito na primeira editora que apresentei, mas eu sabia que era minha melhor escrita longa até o momento. Não me comparando a grandes escritores, mas era minha melhor escrita. Então decidi procurar a Pragmatha e com ela trabalhamos quase quatro meses. Diria que levou um ano e quatro meses mais ou menos.

Como foi sua rotina de escrita?

Normalmente escrevo à noite. Pesquiso muito, faço esquemas de nomes dos personagens. Calculo o tempo, como nascimento e idade do personagem. As datas são muito importantes para que eu não me perca no andamento da trama. As horas dos acontecimentos, se de dia ou se de noite. Pesquiso os lugares nessas datas em que a história se desenrola, mapas se houver alguma viagem, mapas atuais comparando-os com os antigos, trajetos possíveis etc. Esse esquema me acompanha durante toda escrita do romance e, se vejo que alguma coisa no tempo de passagem não combina, volto e refaço tudo, calculo novamente e reescrevo. Muitas vezes no meio da noite vem uma ideia ou uma lembrança, tenho uma caderneta de cabeceira, herança de atitudes do meu pai engenheiro mecânico. A editora é muito importante nesses momentos, pois se na história temos fatos verídicos na minha cabeça eles estão ali, acontecendo, mas esqueço de pô-los no papel e esses conselhos, perguntas, têm um peso muito grande para o escritor que só despeja suas ideias.  Os encontros semanais com a editora via live foram de extrema importância na finalização do romance.

Quais foram os maiores desafios durante esse trabalho?

Juntar a realidade com a ficção. Olhar e ver filmes da primeira guerra mundial, constatar a crueldade do homem, tentar amenizar certas cenas cruéis na parte fictícia. Desvendar mistérios do mapa da Europa antes e pós primeira guerra, onde e como poderiam se deslocar as pessoas para sobreviver. O cuidado para entrelaçar o que era real e o que não era sem perder o fio da meada, sem pular momentos importantes. Buscar ajuda com os únicos primos ainda vivos, que sabiam das histórias da minha avó e das fotos que comprovavam os fatos reais no romance. Perder minha irmã para o câncer em 2020, pois ela era uma caixa registradora da história familiar e não a ter ao meu lado fez com que eu tivesse que procurar muito mais as datas em documentos. Ela era parceira das minhas escritas assim como minha “cuhnirmã”.

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

A minha avó paterna – Oma. A cada capítulo, cada pesquisa, cada nova história contada por meus primos aumentava a minha inspiração para completar a parte fictícia do romance. Comecei a entender a forma como ela viveu aqui no Brasil, o porquê de muito cerimonial em família, a importância das datas festivas e a sua grande vontade de sempre visitar Porto Alegre, que comparada aos parâmetros de Santo Ângelo era o máximo que ela podia chegar perto da sua juventude. Da Bélle Époque que a guerra destruiu junto com seus sonhos. O jeito de se vestir, o cuidado com os cabelos, os perfumes e cremes que a irmã mandava da Alemanha Oriental para ela e vice-versa. Simplesmente ela foi minha principal inspiração, mostrando a força e a coragem de uma mulher do seu tempo. Os estudos sobre como a mulher viveu na primeira guerra mundial influenciaram boa parte da minha vontade de escrever mais e mais sobre essa força feminina.

O livro pretende deixar alguma mensagem aos leitores?

De início era só mais um romance que eu estava escrevendo, mas no decorrer das lembranças, dos estudos sobre a crueldade da guerra, confirmando o que minha Oma me contava, fui vendo a possibilidade de mostrar que a Coragem, um substantivo feminino, realmente faz parte na vida da maioria das mulheres. A força de uma mulher não tem limites quando ela é necessária para a família, para alguém que esteja precisando e para ela mesma. Na primeira guerra mundial a mulher provou que era capaz de superar qualquer desafio. Em toda a Europa, foram elas que arregaçaram as mangas e foram substituir a mão de obra masculina nas fábricas, nos lugares mais inusitados, inclusive empunhando armas para se defender em suas casas. Se hoje reclamamos das restrições que uma doença nos impõe, se não ajudamos no controle desse vírus, de alguma forma o livro é um incentivo para nós que temos que ficar em casa, cuidar dos filhos, da sua escolaridade e conviver em família como há muito tempo não o tínhamos feito.

O que significa para você a publicação dessa obra?

Sou uma artista contadora de histórias. Escrever as vivências da minha Oma me mostrou que sou capaz de fazer qualquer coisa. Se ela depois de enfrentar quatro longos anos de frio, calor, falta de comida, ajudando feridos, aprendendo a lidar com a morte, enfrentou uma viagem por mar para um país do qual só sabia o que seu irmão contava nas cartas. Só posso dizer que o romance significa para mim um recomeçar, pensar que nada é difícil, que tudo podemos quando os problemas surgem em nossa frente, sejam eles grandes ou pequenos, sejam doenças ou alegrias. Cada momento é único, cada momento deve ser desfrutado de forma intensa, porque eu, realmente agora entendi a minha avó e o quanto ela foi corajosa. Esse romance mudou minha visão de vida e me incentiva a realizar novos sonhos.