Escritor Jairo Scholl Costa: telurismo transformado em práxis literária

A obra “Noivas de Preto”, do escritor Jairo Scholl Costa e que será brevemente publicado pela Pragmatha Editora, tem como ponto central uma das mais intrigantes histórias orais trazida pelos imigrantes pomeranos ao Sul do Brasil, o tradicional casamento da noiva de preto. Segundo o autor, dizia-se que a cor do vestido era um sinal de respeito pelo casamento, que era a cor do vestido das rainhas, que a cor escura do vestido era melhor para a lida diária. Mas, também, contavam que poderia ser um costume antigo vindo dos tempos em que muitos pomeranos viviam como servos de senhores feudais e sobre eles se aplicava o direito do jus primae noctis. O primae noctis previsa que a primeira noite da noiva devia ser com o senhor feudal. O livro é uma busca destas raízes sobre este período de submissão à lei do mais forte e disto é construído um romance que se desenvolve na Idade Média e como a vida poderia ter sido.

Confira entrevista com o autor:

Quem é Jairo Scholl Costa?

Advogado, historiador e escritor.  Escreveu “Origens históricas de São Lourenço do Sul” no livro do centenário de São Lourenço do Sul; “Navegadores da Lagoa dos Patos – A saga náutica de São Lourenço do Sul” e “O pescador de arenques”.

Em que momento você se descobriu escritor?

Pode se atribuir em parte ao telurismo, a influência da terra sobre o espírito criativo. Ter nascido e criado as margens da Lagoa dos Patos, em São Lourenço do Sul, uma cidade nascida de um porto de veleiros que traziam imigrantes germânicos para a colônia na Serra dos Tapes, sem dúvida teve um grande efeito sobre mim. Primeiro porque a história da imigração era um assunto corriqueiro na minha família, visto que meu bisavô João Baptista Scholl foi o continuador da colonização alemã de São Lourenço do Sul. E de outro lado, meu amor pela navegação à vela e por atividades subaquáticas me despertou o desejo de escrever sobre este mundo, que para a maioria estava escondido pela pátina do tempo. Assim, desde a adolescência, comecei uma pesquisa diversificada sobre história, hidrografia, biologia marinha, sociologia etc., e naturalmente a vida de pescadores, marinheiros, construtores navais, comerciantes da navegação, imigrantes e tudo que se relacionava a este universo.

Como é seu processo de escrita?

Escrevi sobre história em Origens Históricas de São Lourenço do Sul e em Navegadores da Lagoa dos Patos. Porém, observei que a história, a geografia, a política, os costumes e toda uma época poderiam ser contados com personagens fictícios (que às vezes se encontravam com personagens reais), e sobre um substrato fático desta ordem era possível reconstruir o modo de vida das pessoas usando personagens, que facilmente poderiam ter existido. Foi o caso do romance “O pescador de arenques”, que, através de três gerações de uma família, procurei contar a imigração da Pomerânia para São Lourenço do Sul no século XIX e também com fatos relacionados à história dos Estados Unidos da América por membros desta mesma família. Desta forma, achei que pelo romance histórico era mais fácil alcançar um público maior e partilhar o conhecimento da história.  Este mesmo método busquei para escrever “Noivas de preto” a partir do que se ouvia e se lia ao longo da história imigratória pomerana. Isto serviu como inspiração para que de forma romanceada aquele mundo medieval ganhasse vida e pudesse chegar não somente de forma intelectual, mas também emocional até o leitor.

O que a literatura representa em sua vida?

A literatura para mim é libertadora. Por meio dela consigo viajar no tempo e espaço, e a cada viagem destas o horizonte espiritual se alarga. Consigo entender fatos que determinaram o destino de povos, que me ensinam que há fatos que se forem desconhecidos se repetem de forma trágica. Igualmente, me possibilita pelo conhecimento e imaginação conexão com pessoas e lugares de forma ilimitada e contínua, uma experiência absolutamente enriquecedora que faz minha vida ter sentido.

Pode-se dizer que seu livro traz uma mensagem?

Ele procura mostrar a luta dos mais fracos contra os mais fortes, especialmente a silenciosa luta das mulheres na claustrofóbica sociedade medieval.  Nele se encontra a narrativa de uma mulher desafiando tradições e rompendo com a opressão do sistema; lançando no solo ainda duro de incompreensão as primeiras sementes da libertação feminina. Mesmo quase decorrido 700 anos da época quando o romance se passa, a luta pela liberdade das mulheres neste século XXI ainda continua atual.