Ana Jarrouge é a atual presidente-executiva do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e região – SETCESP e diretora da CNT – Seção II do Transporte Rodoviário de Cargas. Com MBA em Gestão de Pessoas, Ana defende o setor de transporte há mais de nove anos e já atuou como coordenadora nacional da Comissão de Jovens Empresários – COMJOVEM, da NTC&Logística – Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística. Nesta entrevista, enquanto coautora da obra “Experiências na gestão para a inovação do transporte de cargas brasileiro”, organizado pelo IT Talks e publicado pela Pragmatha Editora, ela fala sobre o protagonismo feminino no setor.
A mulher tem crescido em importância no setor de transporte de cargas rodoviário. Quais são as conquistas mais recentes?
Acredito que as conquistas vão desde a percepção que as empresas estão tendo sobre o papel da mulher e as oportunidades nas quais pode inseri-la, notadamente na função operacional de motorista profissional, até a concretização e engajamento crescentes de movimentos voltados para este público, como o Vez e Voz do SETCESP, A Voz Delas da Mercedes Benz, The Queen of the road da SCANIA, Rota Feminina da IC Transportes, e outros programas internos de empresas e instituições que valorizam o trabalho e a participação feminina no nosso segmento, como na Braspress, na Transjordano, na Pizzattolog e na FABET. Estes fatos demonstram claramente que o mercado de transporte rodoviário de cargas está atento e aberto para receber a mão de obra feminina, em qualquer posição, de igual para igual com os homens. Há longo caminho pela frente, e será papel fundamental das entidades de classe orientar e ajudar as empresas a efetivamente adotar programas de inclusão social e equidade de gênero, porque para contratar e reter talentos não pode haver qualquer barreira.
Como sua trajetória influenciou para que você se interessasse pelo protagonismo feminino no setor?
Desde que me conheço por gente estou inserida no segmento de transportes e pude perceber que, de fato, tratava-se de um ambiente dominado pela presença masculina. Quando comecei a trabalhar na transportadora do meu pai, aos 16 anos, isso ficou mais latente ainda e desde esta época aprendi a lidar, a me posicionar e demonstrar minha capacidade. Aos 27 anos, quando comecei a frequentar as entidades de classe, também pude constatar que as mulheres ainda eram poucas e que tínhamos que fazer algo, razão pela qual eu participava arduamente de todas as reuniões, visitas e qualquer oportunidade, justamente para mostrar a elas que eram bem-vindas e podiam contribuir com o setor. E isso foi acontecendo de forma orgânica, elas foram aparecendo e hoje muitas participam. A questão é não perder nenhuma oportunidade que lhe é oferecida. Mesmo que no momento tenhamos alguma insegurança, temos que abraçar e seguir em frente que as coisas se ajeitam e encontramos pessoas muito dispostas a nos ajudar. Basta ter humildade, transparência e propósito.
Você fala em seu artigo que já se avançou na pauta, porém ainda existe muito caminho pela frente. Como as mulheres se posicionam e reagem em relação a esse novo cenário, de ruptura?
Eu vejo as mulheres muito preparadas, engajadas e unidas. Sinto que há muita vontade em colaborar e que a cada dia elas assumem novos desafios para se preparar para isto. Não vou dizer que tudo são flores, porque não são. Muitas vezes percebemos que discursos estão completamente desalinhados da prática e nós somos deixadas de escanteio em algumas questões. Mas tudo isso faz parte do processo. Não podemos desanimar e não vamos. Seguimos firmes no propósito de que as empresas e entidades do transporte rodoviário de cargas sejam cada dia mais um ambiente de diversidade e com equidade de gênero, pois este é o único caminho para renovação e desenvolvimento sustentável do nosso setor.
Quais os próximos passos nesta jornada de valorização da mulher?
Vamos ajustar e melhorar as ações do Movimento Vez e Voz, para que o mesmo efetivamente atinja seus objetivos de valorização e crescimento profissional das mulheres no TRC. Ademais, pretendemos contar com ajuda cada vez mais de empresas e entidades, como apoiadores institucionais do Movimento, porque temos claro que sozinho ninguém faz nada e precisamos de muitos braços para nos apoiar e ajudar na divulgação do Vez e Voz.