Enquete: Traiu ou não traiu?

Um clássico da literatura brasileira é o intrigante questionamento: Capitu traiu ou não Bentinho, na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis? Por apresentar somente o ponto de vista de Bentinho, essa dúvida é um dos aspectos mais geniais da obra. Se cabe a leitor decifrar o mistério, somente a partir de elementos presentes na narrativa, a maioria concorda que sim, Capitu traiu, ou que não traiu? Fizemos essa pergunta para escritores do Caderno Literário Pragmatha. Confira:

Cleia Drose – “Capitu não traiu Bentinho. Ele devia ter a autoestima baixa e sentia ciúmes dela. Em meu entender, ela o amava e não o traiu.”

Leonardo Andrade – “Na minha opinião, não há outra resposta plausível que não seja talvez. O livro apresenta apenas o ponto de vista do Bentinho e não a posição da Capitu, muito menos seus pensamentos. Numa discussão ampla, teríamos que definir o que é traição e quando ela efetivamente começa. Traição só pode ser denominada como tal se for linkada a alguma ação, ou o simples desejo de trair já vale como tal? Definir é limitar, mas muitas vezes (como neste caso) torna-se necessário fazê-lo para entendermos qual nossa área de ação. Independe da definição, repito, neste caso não há como responder sim ou não. Sabendo só um lado torna-se impossível tomar uma decisão que não seja parcial e questionável.”

Rosa Acassia Luizari – “Não traiu. Bentinho não tem provas suficientes para afirmar que Capitu o traiu. As coisas que diziam a respeito dela eram apenas suposições. O ciúme excessivo de Bentinho o fazia pensar desta forma. Criava situações para justificar o sentimento de posse que tinha em relação a Capitu. A narrativa é tão bem estruturada que permite um debate acalorado a respeito do assunto sem que possamos chegar a conclusões suficientemente convincentes, qualquer que seja o posicionamento”.

Tauã Lima Verdan Rangel – “O romance é instigante e nos faz, a todo momento, refletir sobre o suposto adultério. No contexto em que a trama se desenrola, Bentinho vive em uma sociedade patriarcal em que a mulher é renegada, não raramente, à condição de uma extensão do patrimônio e da propriedade do esposo. Capitu, de outra maneira, é efusiva e traz, em seu olhar oblíquo, o anúncio de ruptura de todos esses padrões e de todos os modos sacralizados. A grande questão, na síntese do texto, é que estamos falando de um homem inseguro e que tal afirmação se cristaliza na essência de Bentinho possuir a maior fragilidade, qual seja: um homem incapaz de conviver com uma mulher de essência forte e determinada; um homem infantilizado e amargo; um homem típico de uma sociedade tradicional conservadora que teima em controlar e subordinar os corpos femininos.”

Rian Lucas – “Bentinho era obcecado e ciumento. O que faz o ciúme senão enxergarmos coisas onde, na maioria das vezes, nem existem? Acho que foi isso que aconteceu. O ciúme o cegou. Portanto, não acho que tenha traído, mas – sendo bem sincero – deveria. Haha”;

Claudia Gomes – “É uma incógnita da literatura brasileira. Machado de Assis foi um sábio. Deixava seus leitores enlouquecidos com suas narrativas psicológicas. No entanto, acho que teve sim algo de especial entre Capitu e Escobar! Para mim, ela traiu. Ou melhor, ela amou e foi amada.”

Giovana Schneider – “Talvez, pois, não foi uma traição de fato. Ela amava Bentinho e a suposta traição aconteceu na vontade de torná-lo pai, o que estava difícil de acontecer, e fazê-lo feliz, o que não aconteceu”.
Gabriella Slovick – “Não traiu. O foco é o romance onde estão todas as respostas. Naquele contexto a mulher está sob forte pressão dentro e fora do casamento e Capitu estava além de seu tempo; não traiu por ter forte personalidade, destacada desde o início, ao contrário do que se diz de seu marido Bentinho completamente inseguro”.

Angela Guerra – “Claro que não, mas os olhos dissimulados de Capitu faziam-no crer que sim… Viva Machado de Assis, o rei da ambiguidade!…”

Carlos Hahn – “Machado, o mestre do suspense? Não, o mestre da literatura. Cada um que tire sua conclusão. Podemos achar que Capitu tenha traído Bentinho, mas nunca teremos certeza. O autor explora a insegurança de Bentinho. Desde criança ele desconfiava da menina. Essa paranoia nos faz o tempo todo pensar na traição de Capitu. Aliás, o universo masculino é povoado de chifres imaginários. Quando o homem está seguro da fidelidade da esposa, é, muitas vezes traído. Acho que esse sofrimento de “macho” poderia ser eliminado pela seguinte filosofia: ser eventualmente traído é menos sofrido do que passar a vida inteira desconfiando”.

Jeane Tertuliano – “Capitu nunca traiu Bentinho, ela sempre o amou e não iria traí-lo sem porquê nem pra quê. Bentinho, que se tornou Casmurro, era inseguro e ciumento, e acabou vendo coisa onde não existia.”

Tainara Vasconcelos – “Acredito que não traiu, mas o ciúme de Bentinho era tão grande que não o permitiu viver o amor dela como deveria. Porém, se tivesse traído não me surpreenderia já que o homem não dava um dia de paz para essa mulher.”