A água começou a bater na cintura de Anna. Não seria diferente. Ela passou anos enganando a mãe, de nome Genoveva, em relação ao seu trabalho. Saiu de casa aos 17 anos rumo a Vitória, no Espírito Santo e, em cidade distante 300 quilômetros, muito pequena, ficou sua mãe e dois irmãos.
Chegando à capital, conseguiu um trabalho de lavadora de louças, sem carteira assinada, em uma lancheria e, vendo que não conseguiria se manter, decidiu prostituir-se à noite, sob os olhos de João, o dono de um pequeno e sujo bordel. Lá ela conseguia complementar a renda, ou melhor, triplicar a renda, pois era menina bonita, de coxas grossas e peitos eretos. A boca carnuda, sempre lambuzada com batom vermelho, era o seu maior chamariz.
Passaram-se anos e de lá não saiu mais, largando a lancheria e vivendo de oferta de prazer, até ser fisgada pelo coração de Antonio, que de lá tirou-a para formarem um casal, preferencialmente um casal bem convencional. Em pouco tempo Anna começou a ser respeitada na redondeza, já que Antonio era proprietário da maior banca de jornais do bairro e acabou propondo casamento sério, com papel passado no cartório.
Mas a vida dos dois nunca foi um mar de rosas, já que Antonio nunca deixou de ficar no seu encalço, deixando evidente a dificuldade de esquecer o passado da esposa. Certo dia, Anna recebeu a visita de sua mãe em momento inadequado, já que vinha em ferrenha briga com o marido. Tentou disfarçar de todas as formas, mas, lá pelas tantas da noite, depois de mais uma breve discussão, Antonio gritou: “Sua vagabunda, eu jamais deveria ter te tirado daquele bordel imundo”.
Os gritos atingiram Dona Genoveva que, ao amanhecer, resolveu buscar explicação com a filha. Acabou zonza com tantas explicações e certa de que nenhuma delas tinha sentido.
Por Rosalva Rocha
- Texto integrante dos exercícios literários propostos pela Pragmatha Editora em suas redes sociais aos domingos