Diário da Tradição Gaúcha: o poder do exemplo

A escritora Sandra Regina de Alencastro Lima publica pela Pragmatha Editora o seu Diário da Tradição Gaúcha. A obra tem por objetivo trazer à tona e discussão alguns dos principais elementos da tradição vivida no cotidiano. Em seu primeiro capítulo, o livro que é publicado em formato aberto, sendo construído de forma compartilhada, discutiu o poder do exemplo. O que você aprendeu em casa, com o exemplo de seus pais, de seus familiares, e que cultiva até hoje, fazendo parte da sua história e jeito de ser e estar no mundo? Conta pra nós, utilizando o formulário abaixo! Sua contribuição será publicada logo abaixo do formulário. E já aproveite para conferir o que mais pessoas apaixonadas pela cultura do Rio Grande estão dizendo! 

Geísa Goersch Guterres (Cacequi/RS): “O coração se enche de orgulho e saudades quando escuto meus filhos fazendo as mesmas orações antes de dormir que minha vó Elsa ensinou: “Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça divina do Espírito Santo. Amém.” Assim como os causos de enterro de dinheiro contados pelos tios nas noites de inverno ao pé do fogão à lenha. Lembranças carinhosas e divertidas, que entre preces e causos seguimos contando para a família e amigos.”

Maristel Pozzada (Santa Vitória do Palmar/RS): São tantas lembranças de quando era criança na casa de campo onde morei até os 9 anos de idade. Lá se juntavam as tias para ajudar em carneada de animais e para fazer doces com frutas da época. Meu pai tinha um pomar bem farto, onde colhíamos de tudo um pouco. Portanto eu faço até hoje que aprendi com ele, assar carne em fogo de chão e com as tias fazer doces, entre eles o famoso doce de marmelo, um sucesso. É um resgate dessa memória.

Marcelo Zana (Rivera/Uruguay): “Os valores aprendidos em casa e que seguem presentes na minha vida são a honestidade, a disciplina, o valor próprio e por os demais, tratando-os como gostaria de ser tratado. A formação de bons hábitos deve ser cultivado e a recompensa sempre chega quando menos esperamos. Aproveitando a oportunidade de falar sobre bons hábitos, deixo uma frase que me parece pertinente: las cadenas del hábito son demasiado livianas para sentirlas hasta que son demasiado pesadas para romperlas, de W. Buffet”.

Sandra Veroneze (São Paulo/SP): “Guardo com carinho muitas memórias do período de férias escolares na casa da nonna. Éramos vários primos reunidos num ambiente campeiro, crianças sendo crianças, fazendo coisas de crianças. E havia sempre um movimento intenso na cozinha.  Hoje resgato receitas antigas e mantenho viva essa tradição da comida de casa. A minha massa começa com ovo e farinha. E também faço, por exemplo, pães artesanais fabricando meu próprio fermento. Essas eram coisas simples e baratas de antigamente que hoje se tornaram gourmet. Ironia dos tempos.”

Renata Costa (Cacequi/RS): Era verão, acordávamos de madrugada para irmos pegar o Trem de Passageiro na nossa estação movimentada. Era tumultuado e sempre emocionante, pois o gostoso era viajar “na janela”… Aquele embalo e a paisagem rural pareciam durar tantas longas horas, mas isso era porque a ansiedade pra chegar no Jacaquá era grande. O vô Ivo já esperava com o cavalo na estação pequena, de lá íamos para a fazenda. E eu não via a hora de comer o carreteiro de charque servido no pratinho de alumínio que só seu Ivo sabia fazer. Ao entardecer vinham os “causos” do Lobo Guará que rondava a casa pra pegar as visitas. Ao deitar aquele pelego por baixo e a luz de lampião. Ah, quem dera por um descuido esse tempo pudesse se repetir e eu pudesse ouvir tua voz falando: ― Vem jantar joia do vô… E aquele avô que cuidava a neta brincando com suas ovelhas sabia que faltava ensinar algo mais. Ele abriu a sua caixinha de baralho espanhol e começou repassar seu conhecimento de truco. Nunca te ganhei uma partida, meu velho, mas aprendi a jogar como poucos. Dos versos para cantar a flor até o grito: ― Quero retruco! Querido diário, essas lembranças são de longe o que temos de mais precioso com nossos amores.

Adriana Richter Schneider (Santa Cruz do Sul/S): Da minha infância em Lajeado/RS, trago lembranças de dias passados no interior do município. Da casa do meu avô, muito grande e com muitos quartos, lembro das fotos nas paredes. Praticamente todos vestindo roupas pretas. Na casa de uma prima de meu pai, a cozinha era separada das outras muitas dependências da casa. Casa opulenta, com muitos quadros, relógio cuco… Memórias de tempos passados que trago com amor. Sou formada por estas vivência! Sou de origem alemã. Fiz parte das atividades do CTG, dança, declamação. Aprendi desde cedo,a hospitalidade, o bem receber a visita, preparar um chimarrão, um doce em calda, carreteiro, etc. Pensar sobre este assunto, é uma forma de honrar nossos antepassados.