Desafio literário: “O filhotinho mostrou que era muito sapeca”

O sapeca Puman

Os dias foram passando e o filhotinho mostrou que era muito sapeca.

Não podia ser diferente, pois era um cachorro da raça Springer Spaniol e ganhou um lar coberto de carinho onde podia se espraiar nas suas brincadeiras.

Na casa dos Robinsons a vida mudou desde aquela feira de adoção, quando Henry, o único filho, resolveu adotar o cãozinho. Deu a ele o nome de Puman e, juntos, criaram uma cumplicidade humano-canina invejável.

Henry, sabiamente sabendo do apego também dos pais ao Pumam, por inúmeras vezes livrou-se de suas sapequices colocando a culpa no parceiro, já que era a sua marca registrada.

Certa vez, atribuiu a Puman a quebra de um vaso grego que ornava o aparador de entrada da sua casa.

A mãe, furiosa, quando viu o vaso quebrado bradou:

— Puman, eu queria que você entendesse o estrago que fez! Esse vaso eu herdei da minha bisavó!

Pulman saiu da casa de cabeça baixa e, pela primeira vez, resistiu em dormir no quarto de Henry. Estava cansado de dividir a culpa de tudo.

Por Rosalva Rocha

…………………………………………………………………………

O filhotinho

Adotaram o cachorrinho logo que desmamou. Era peludinho, malhado de preto e branco. Mas só queria ficar deitado. Mal comia. Desanimado. Parecia estar adoentado.

— Acho que nos deram um animalzinho doente. É prostrado! Vamos levar ao veterinário! — falava José.

— Talvez esteja estranhando a casa e a gente — retornava Tereza, a esposa de José.

Aos poucos o bichinho foi se levantando, caminhando. Começou a comer e, ainda com um pouco de medo, começou a sair à rua.

Os dias foram passando, e o filhotinho mostrou que era muito sapeca. Até demais! E passou a gostar muito dos seus tutores. Pulava neles o tempo inteiro. Sempre aconteciam alguns arranhões, tamanha a euforia do bichinho.

Virou um furacão! Começou a roer tudo dentro de casa: roupas, calçados, móveis…

— Que criaturinha endiabrada! — Queixava-se agora José.

— É novinho ainda, José. Vai crescer e se acalmar um pouco…

— Será? Bem que ele podia se prostrar um pouquinho…

Por Marilani Bernardes

………………………………………………………………………….

Belas companhias

Chegaram na residência em plena visitação, vindo alegrar a casa da senhora solitária. Reviraram tudo, distribuindo simpatia e travessuras, sendo carinhosos, criativos e serelepes.

João e Manoel são crianças adoráveis, que por impulso não ficam quietas um só instante. Resolveram fazer um bolo tomando conta da cozinha, misturando ingredientes e bagunçando o limpo ambiente. Queriam impressionar, servindo um lanche regado a suco e declamação.

Dona Milina achou engraçado, dizendo “deixem tudo no lugar”. Eles responderam que podia deixar e que o lanche já sairia.

Então pega a gata da casa para dar banho. Mimi foge desesperada, voltando quando tudo se acalma. A casa deixa de ser sombria, enchendo-se de alegria.

A senhora vai descansar depois dos meninos irem embora, ficando saudosa, entre o riso e o pranto. Quando saem, deixam um vazio, porque já são amados e sem dúvida serão tirados de vez do orfanato.

Por Francisco Aquino

………………………………………………………………………………..

É muita sapequice

Ela chegou em minha casa com apenas dois meses. Eu não queria nenhum bichinho de estimação, pois não tinha tempo para os cuidados exigidos, mas sem que eu soubesse meu marido e minhas duas filhas a trouxeram. Foi um choque e fui voto vencido.

Deixei bem claro que todos os cuidados seriam sob responsabilidade deles e já na primeira noite percebi o vai e vem de todos em função dela. Tudo no maior cuidado para que eu não acordasse, pois eu fingia estar dormindo.

Fiquei surpresa ao ouvir falar num despertador. Pegaram e enrolaram num pano, colocando-o na caixa onde já estava a coberta que a cobriria, para simular o coração da mãe. Mas não deu certo! Do meu quarto escutei o choro. De repente, o silêncio!

No outro dia, a surpresa! Só dormiu ao ser colocada na cama com uma das minhas filhas. Fiquei indignada. Isso, para mim era inconcebível! E era só o início.

Muito pouco tempo depois uma de minhas filhas foi chamada para trabalhar em Porto Alegre e depois a outra, ficando meu marido cuidando dela. E não era fácil! Já tinha passado o período de adaptação para fazer suas necessidades no jornal, que foi bem longo. Neste período tivemos chinelos roídos, gritos incomodando a vizinhança. Quando saíamos, arrumava um lugar específico para deitar em um dos sofás, ao lado do meu marido, que passou a ser sua referência.

Os anos foram passando, ela crescendo, e sempre aprontando. Meu marido sempre achava uma desculpa para defendê-la. Em resumo, ela virou a sombra dele, sem contar que, para dormir, a cama era colocada no tapete ao seu lado da cama, no sofá já era no colo dele. Quando ele saía ficava esperando na frente da casa até ele voltar. Era muito apego.

E daí aconteceu o pior! Meu marido morreu de repente. Um choque para todos nós e ela sentiu demais. Chorava, procurava por ele, sentava-se no seu lugar no sofá, ia para o portão e ficava esperando-o por horas a fio. De dar dó. Ela agora estava com cinco anos. E de quem era o compromisso de cuidá-la agora? Meu não é. Eu não queria um bichinho de estimação.

Penso que, sem a companhia do meu marido e com as filhas longe, o seu aconchego foi se tornando imprescindível. E como não poderia ser diferente, tinha que aprontar uma para mim. Foi até o jardim onde os gatos da vizinhança tinham usado como banheiro e esfregou-se de corpo inteiro, acho que para marcar seus limites, e voltou para dentro de casa num cheiro insuportável. Tive que levá-la direto para o banho. Depois disso, virou minha companheira inseparável. Era amor incondicional de ambas as partes. Morreu quando faltavam exatamente dois meses para completar quinze anos e foram muito sofridos seus últimos momentos. Ao contar sua história meu coração ficou apertado. Pituca era a nossa companheirinha sapeca.

Por Arita Correa

………………………………………………………………………

O filhotinho sapeca

O dia mais esperado por Livia era a sexta-feira, dia em que a vovó Rita vinha para a sua casa e ambas faziam longas caminhadas pelo sítio em que morava. Hoje ainda foram brindadas com um dia deliciosamente agradável. As nuvens se moviam vagarosamente no céu azul e a primavera anunciava sua chegada, transformando os campos verdes em verdadeiros tapetes floridos.

 Lívia corria na frente de sua avó pela estrada estreita que levava até rodovia e   terminava na aldeia próxima.

— Vovó não me pega…, dizia entre risos olhando para trás.

— Não se apresse, meu tesouro, respondia a Rita, sorrindo. Com esta pressa não vais apreciar o canto dos pássaros e nem o perfume no ar.

Lívia tinha seis anos e seus cabelos longos, cacheados, formavam uma cascata deslizando por seus ombros. Rita agradecia a Deus em todas as manhãs por tanta graça recebida. Lívia era a sua única neta e procurava cobri-la de afeto e amor.

Um novo grito lhe tirou do devaneio, quando o vento trouxe as palavras entrecortadas de Lívia:

— Depressa vovó…. Cãozinho.

Rita apressou seu passo e em instantes alcançou a menina, debruçada sobre um capim alto, na beira da estrada.

Olhou para onde ela apontava e viu uma caixa de sapatos aberta e, dentro dela, dois filhotes de cachorros, que choravam pelo abandono.

— Oh… são lindos, disse a Rita enquanto segurava a caixa.

— Vovó, podemos ficar com eles? — perguntou a menina pulando ao redor de sua avó.

— Não sei, meu tesouro. Precisamos falar com os seus pais, disse levando a caixa no colo e voltando pela trilha.

Quem poderia ter abandonado os cãezinhos? — pensou, enquanto alisava as suas cabeças.

Lívia chegou correndo em sua casa, chamando pelos pais, que saíram de casa preocupados, pensando que houvera algum acidente, pelos gritos que ouviram.

Rita chegou com a caixa e a depositou sobre a mesa na varanda.

— Eles estão muito magros — comentou a mãe. — Devem estar famintos.

Lívia foi correndo buscar a mamadeira que era sua e que trocara recentemente, pelo copinho da Cinderela. A sua mãe preparou um pouco de leite morno com água e Lívia alimentou os filhotes que mamavam com sofreguidão.

Os pais permitiram que Lívia ficasse com os filhotes, mas teria que ajudar a cuidá-los.

— Eu cuido, mamãe — respondeu, limpando a boca deles lambuzada de leite. — Vamos chamá-los de Neve e Bolinha — e apontou para o cãozinho branco e o outro peludo como um floco de algodão.

Vovó se despediu da Lívia no fim da tarde, recomendando que desse leite aos pouquinhos para os novos integrantes da família. 

No fim do dia, de banho tomado e voltando da visita ao veterinário, Neve e Bolinha já mostravam que eram muito sapecas. Todos estavam felizes com a alegria que Lívia demonstrava com a chegada dos novos amigos.

Por Elsa Timm