Degustação literária: Leia o capítulo “Desafios na Comunicação”, do livro “Negociando com sua voz interior”

Pela Pragmatha Editora, o psicanalista Jorge Luiz Krolikowiski lançou seu mais novo livro, “Negociando com sua voz interior – Menos ideias limitantes e mais qualidade nos pensamentos”. Trata-se de uma seleção de relatos inspirados em casos reais, que abordam temas como escolhas, emoções, dificuldades em casa, filhos e treinamento de habilidades. Confira o primeiro capítulo, que versa sobre desafios na comunicação.

Atílio é um paciente bem interessante; ele facilita meu trabalho, pois fala bastante durante as sessões. E a sua forma de se comunicar é nosso grande desafio. Em uma das sessões, falei o seguinte para ele:
— Atílio, pense na forma como os bebês se comunicam. Quando estão com fome, choram e gritam sem parar até que sua necessidade imediata seja atendida. A comunicação deles é objetiva e clara, pois é a única forma como eles sabem…
Atílio concordou inteiramente, inclusive deu exemplos de seus netos. Na continuidade da conversa, citei:
— Atílio, é interessante observar que até crianças maiores e adultos mudam a forma de se comunicar quando estão com fome. Alteram a forma de falar e de se comportar, ficam mais agitados, nervosos e sensíveis em virtude da sensação da fome…
Reforcei que é bom que ele reflita mais sobre esse tema, pois há grandes riscos de se comunicar mal, muito mal quando se está com fome, com sono, com pressa, com raiva… Todas as pessoas mudam a forma de se comunicar constantemente.
Atílio me perguntou quais são os motivos que levam a esses riscos. Respondi:
— São influências químicas, que se processam dentro do organismo e vão direto para a área do cérebro responsável pela comunicação. Por isso, o ideal é que antes de você se comunicar, seja pessoalmente, seja por escrito, digitando, telefonando, gravando áudio… tenha o maior cuidado, paciência e sabedoria, para analisar como estão seus sentimentos, suas emoções e necessidades.
Pedi a Atílio que citasse um sentimento ou emoção. Ele falou de mágoas. Disse-lhe:
— Veja um exemplo sobre mágoas, bem simples. Observe como mudando uma frase, o que dizemos à outra pessoa pode trazer belos resultados: Você está magoado com uma pessoa por algum fato que aconteceu, e a encontra na rua, e quer dizer algo sobre esse sentimento. Você, sem pensar, tenderia a dizer: ‘Estou chateado com você’. Mas você pensa melhor, e percebe que o ideal é ser mais racional e ter controle dos sentimentos, focando na qualidade da comunicação. Você diz o que quer de uma forma mais proveitosa: ‘Estou confuso com a situação que se criou, gostaria de falar a respeito…’ Essa mudança de comunicação é muito benéfica, permitirá uma conversa emocionalmente equilibrada e resultados bem diferentes.
Perguntei:
— O que você acha do exemplo, Atílio?
Sua resposta foi:
— Eu gostaria muito de poder agir dessa forma, falar desse jeito, evitaria muitos problemas em meu trabalho e com meus familiares. Mas não consigo ser assim.
Disse a ele:
— É claro, Atílio, que você não consegue, e nem vai conseguir em um passe de mágica, mas nós vamos trabalhar as origens dessa sua dificuldade, e vamos desmontar esse comportamento ansioso, vamos recriar sua capacidade de ter um comportamento mais adequado nessas horas.
E assim aconteceu, um processo que fluiu muito bem e muito rápido, muito pela facilidade de Atílio se expressar livremente nas sessões.
Deixando de lado o trabalho com Atílio, é importante pensarmos sobre:
Em sua vida, é muito importante identificar suas necessidades, mas também identificar as necessidades dos outros. É assim que se desenvolve a empatia, que é fundamental e vantajosa em qualquer tipo de comunicação. O ideal é que você desenvolva a capacidade de a empatia passar a ser parte de sua essência. Ela se incorporando em suas emoções, fará que você tenha um comportamento naturalmente empático, e dessa forma, seus relacionamentos tendem a ser muito agradáveis.
Quando você está se comunicando, precisa “desligar” aquele “diabinho mental” que gosta de julgar e criticar. Coloque o foco no objetivo da comunicação, o que você quer alcançar ao fim dela. E concentre-se em escutar sem criticar, e sem tirar conclusões precipitadas. E quando falar, concentre-se em descrever os fatos, sem já ir julgando e acusando.
Se você sente necessidade de usar a comunicação para provocar, gerar discussões, criar confusões, achar culpados ou se posicionar como vítima, tenha certeza do seguinte: Você está com problemas psicológicos que merecem muita atenção.
A comunicação inadequada no dia a dia tem tudo a ver com transtornos afetivos. As pessoas que mais têm problemas ao se comunicar são as com baixa autoestima, falta de amor próprio… As origens desses comportamentos inadequados estão geralmente ligadas a problemas com seu ego…
Problemas de comunicação podem desenvolver neuroses, mas também podem já ser sinais de graves transtornos emocionais.
A comunicação deve ser utilizada para construir bons relacionamentos e para a compreensão mútua. Esse tem que ser um princípio básico sempre.
Outra sugestão sobre comunicação: Quanto menos você falar “EU”, melhor será para você. Quanto menos você contar fatos referentes a você, melhor… Suas qualidades de comunicar-se têm tudo a ver com a qualidade em seus relacionamentos.

02/05/2025