Cleia Drose prepara romance distópico com publicação pela Pragmatha

A escritora Cleia Dröse, de São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, aproveitou o período de quarentena para finalizar seu romance “O Quarto Pilar”. A obra é distópica e é de estreia da autora no gênero. Nesta entrevista, Cleia fala sobre o processo de escrita e um dos grandes diferenciais de sua narrativa: a homenagem a amigos.

“O Quarto Pilar” é obra do isolamento social que nos foi imposto em 2020 ou já era uma ideia antes?

A ideia já existia, tanto que os primeiros capítulos foram escritos nos primeiros dias de janeiro, quando ainda não sabíamos o que nos estava reservado para este ano de 2020. No entanto, não posso negar que o fato de precisar obedecer ao isolamento desencadeou a escrita da história num ritmo muito acelerado, influenciando de certa forma o desenvolvimento da trama. 

Você já tem mais de 10 livros publicados e é o primeiro no gênero romance. Quais as particularidades deste trabalho, em relação aos demais?

O romance precisa formar um todo, desenvolver-se em torno de uma coluna dorsal, por assim dizer. Nos livros anteriores, cada texto era uma unidade e foram escritos por vezes em épocas diferentes ou pelo menos sem preocupação em dar continuidade de forma coerente a uma história mais longa.

Seu livro retrata um mundo distópico. Como foi seu processo de pesquisa e inspiração?

Venho de uma família rural e na minha infância nos alimentávamos basicamente do que produzíamos. Produtos industrializados eram raros em nossa mesa. Talvez por isso me questiono sobre os rumos que nossa civilização tomou e até onde o planeta aguenta essa demanda por alimentos e outros bens de consumo.

Por outro lado, sou fascinada pelas teorias da física quântica. Leio e assisto tudo sobre a teoria das cordas, possíveis dimensões existentes para além do que percebemos em nossa existência tridimensional. Acredito que somos energia. Apenas precisamos aprender a manipular essa energia.

Diluí essas duas ideias no caldeirão da trama e deu origem à distopia de “O quarto pilar”. 

Em seu livro, você faz homenagem a amigos, criando uma descendência com personalidade afinada em termos, principalmente, de valores. Como foi a reação?

No início, decidi que os personagens não teriam um nome e sim uma designação de letras e números. E, a princípio, essa designação foi aleatória. Mas eu precisava de parâmetros para construir os personagens de forma crível. Então divulguei nas mídias que estava escrevendo um romance e procurava pessoas dispostas a ler e dar feedback. Vários amigos fizeram contato e enviei os primeiros capítulos. Foi incrível, porque cada um me alertava para algum dado, perguntava sobre algum detalhe. Às vezes, eu realinhava de acordo com o questionamento que me faziam, outras vezes eu optava por manter, em especial quando o detalhe tinha uma função dentro da história. Só da metade para o final que pedi permissão a cada um para usar o seu nome. A partir daí coloquei nos “descendentes” algumas características de meus amigos. Então troquei a designação de cada um, associando aos nomes das pessoas reais. E percebi que agora os personagens adquiriam personalidade própria, eram quase palpáveis.

E meus amigos só souberam qual personagem tinha a ver com eles quando terminei no dia 1º de maio e enviei os originais a cada um. A reação foi muito interessante. Alguns me ligaram em seguida, dizendo “Por Deus, meu personagem descendente tem minha essência! Como tu viste em mim esses detalhes?” Outros me disseram da emoção ao saber que sua linhagem estava representada em minha ficção. No geral, acho que funcionou muito bem. Foi de grande valia a troca durante a criação da obra e gratificante no final diante da revelação de quem era quem.

A preocupação com o meio ambiente é uma das preocupações apresentadas em O Quarto Pilar. Você é otimista em relação ao futuro da humanidade?

Creio que algo precisa ser feito para não terminarmos num mundo distópico como o representado nesta ficção. Durante o período em que ficamos mais em casa por conta do isolamento imposto, serviu de experiência para nos darmos conta de que não necessitamos consumir tanto, de que podemos viver com menos. E se isso é possível, então por que não tentar?

Se continuarmos no mesmo ritmo de consumo, tenho receio de que a humanidade, tal como a conhecemos, não sobreviverá por muito tempo. Ainda assim, creio que podemos fazer algo no sentido de preservar o planeta e a vida que ele contém. Eu vejo a Terra como um grande organismo vivo. Cada ser faz parte deste todo e, por isso, deve ser respeitado.