Cinco reflexões fundamentais sobre a sociedade provocadas pela obra “Noivas de Preto”

Não se chega incólume ao final da leitura de um livro como Noivas de Preto – uma saga contra a força da tradição e da lei dos senhores, de Jairo School Costa. O romance proporciona entretenimento, momentos de prazerosa leitura, mas por outro lado também questionamentos e incômodo àquele leitor crítico e atento à sociedade e seus usos, meandros e costumes. Perguntamos ao autor quais são os principais pontos de reflexão provocados pela obra e, consequentemente, conhecimentos que ela proporciona Confira:

No que tange a aprendizado que o livro possa transmitir através de sua leitura, acho que o primeiro é a luta pela liberdade. Uma luta antiga, que sempre ocorre quando o poder dos mais fortes se impõe sobre os mais fracos. Acho que é algo absolutamente atual, mesmo decorrido quase 800 anos do tempo em que se passa a ação do livro.

Outro aprendizado pode se dizer que é que as mulheres foram historicamente as grandes vítimas das sociedades patriarcais e que a violência que ainda sofrem em todos os cantos do mundo, infelizmente, também é um assunto atual, mas, o livro mostra que a libertação das mulheres, sua busca pela igualdade e a preservação de seus direitos inalienáveis estão exatamente nas mãos delas próprias. Creio que a personagem de Alena é um exemplo disto, em razão sua insubmissão e coragem em tecer o fio de sua própria salvação.

Podemos também extrair como lição que o direito na sua mais antiga origem estava adstrito à propriedade, a justiça era distribuída por quem era dono de terras e bens, e isto é visível no Capítulo VIII denominado a Justiça do Grifo. Ali é possível ver a forma de julgamento da época e mais especificamente o poder de aplicação da lei por quem detinha o poder e a posse dos bens. Esta dissociação do direito e a propriedade é um processo que começa a acontecer mais aceleradamente após a Revolução Francesa, mas a existência da escravidão nas Américas até o século XIX e a desvalorização do trabalho que alcança os dias atuais em muitos países demonstra que o ordenamento jurídico ainda é uma construção inacabada, apesar dos meteóricos avanços em algumas áreas.

Penso que o livro também nos ensina alguma coisa sobre a forma como vemos Deus e as religiões. As dúvidas do Frei Jacobus devem ser mais comuns do que se imagina, principalmente num tempo que os pagãos estavam se cristianizando. Como verificou Jacobus,  embora ditos selvagens, os wendes, antes da conversão, eram dotados de espiritualidade. Tinham seu panteão de deuses. Eles os encontravam nas florestas, rios, lagos, animais etc. A estes deuses eles buscavam também amparo e socorro, como faziam os cristãos com seu Deus único e seus santos. Então, acho que a leitura do livro nos deve fazer refletir sobre esta questão, ou seja, que a bondade, as virtudes, enfim a espiritualidade pode estar presente entre pessoas que creem em um Deus Único, que acreditam em deuses ou mesmo entre aqueles que não acreditam nem creem em nada.

            Outro aprendizado é que aquilo que os povos tratam como superstições,  lendas ou mitos, via de regra, são manifestações de algo real que, por sua antiguidade, pelo desgaste da tradição da história oral, enfim, por origens que se perdem na noite dos tempos, não deve serem desprezadas pelo mundo atual tão prático, eficiente e de respostas instantâneas, pois ao nos negarmos a pesquisar ou refletir sobre elas poderemos estar destruindo a possibilidade de descobrirmos mais sobre nossa própria existência e não historicamente apenas, mas, como espécie.

Por Jairo School Costa