Cannabis

Na véspera da formatura, Gilda resolveu dar umas voltas pela cidade, à noite, sozinha. Precisava deste tempo com ela mesma – pensou. Levou um cigarrinho de maconha, que estava há tanto tempo guardado, que ela nem sabia se ainda faria efeito. Resolveu ir no morro mais alto da cidade. Havia muito tempo que não ia mais lá. Lembrou que foi ali que perdera a virgindade. Naquele morro, ela e uma amiga se aventuraram para ver o cometa Harley, em 1986. Foi uma decepção. Infelizmente, não conseguiram ver o cometa, mas por outro lado foi bem divertido. Quando estavam descendo o morro a pé, bateu aquela larica, encontraram um pé de goiaba, foi a salvação. Gilda ia subindo e lembrando, rindo sozinha, e até gritando. Só o céu estrelado era a sua plateia. Chegou no topo, viu que ainda havia o banquinho de madeira. Pegou a garrafa de água da mochila e deu uma golada. Procurou o baseado, achou e o acedeu. Ficou fumando e olhando para as luzes da cidade, ouvindo o som dos grilos. Virou e viu uma esperança na sua mochila. Resolveu conversar com ela:

— Oi bichinha verde, você é muito bonitinha.

Deu mais um trago no baseado e continuou:

— Amanhã é minha formatura, sabia? Mas farei como aquela atriz daquele filme, “E o vento levou”. Vou pensar nisso somente amanhã.

Por Giovana Schneider

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br