Bukuia: Não é apenas um livro, mas uma jornada de transformação como artista e como ser humano

Géssica Ronise, com sensibilidade de neta de indígena e de preta, publicou recentemente pela Pragmatha Editora o livro Bukuia. A obra traduz em imagem sua jornada na tribo Kariri-Xocó, em Alaginhas/BA. Capturou imagens, colheu essências, extraiu a alma do lugar, dos ritos e das pessoas. Nesta entrevista, ela fala sobre a experiência, que a convidou a ver a profundidade de um povo que vive em plena comunhão com o mundo ao seu redor, que carrega nas costas a responsabilidade de manter viva a sabedoria ancestral.

Quais eram suas expectativas iniciais? 

Minhas expectativas iniciais eram de aprender sobre a cultura Kariri-Xocó de forma profunda e autêntica. Esperava que a imersão me proporcionasse uma visão realista da vida na reserva, além de uma maior compreensão dos desafios enfrentados pela comunidade. Ao mesmo tempo, desejava que essa experiência me ajudasse a criar um livro que refletisse a riqueza e a complexidade de suas tradições e modos de vida.

Como foi a receptividade? 

A receptividade foi calorosa e acolhedora. Desde o primeiro contato, percebi que os membros da comunidade estavam abertos a compartilhar suas histórias e experiências. A hospitalidade deles me fez sentir em casa, e isso facilitou muito o meu trabalho. A confiança que eles depositaram em mim foi fundamental para que eu pudesse coletar fotografias de vivências de maneira respeitosa e verdadeira.

Como foi a rotina de trocas?

A rotina de trocas foi enriquecedora. Participamos de muitas atividades diárias, como a confecção de artesanato e as celebrações culturais. Essas experiências me permitiram observar suas práticas me envolvendo ativamente. As trocas de saberes foram constantes, e aprendi muito tanto sobre suas técnicas quanto sobre suas visões de mundo. Além disso, as conversas informais ao redor da fogueira proporcionaram um espaço íntimo para compartilhar experiências e reflexões.

O que chamou sua atenção de forma particular?

Algo que me chamou a atenção de forma particular foi a conexão profunda que a comunidade tem com a natureza. Cada elemento do ambiente é considerado sagrado e possui um significado especial. Essa harmonia com a terra e a água me fez refletir sobre a forma como vivemos em sociedade moderna, muitas vezes desconectados do nosso entorno. As histórias sobre os Encantados também foram fascinantes, revelando um universo simbólico rico e inspirador.

Quais as diferenças entre quem você era no início deste trabalho e agora? 

No início deste trabalho, eu era uma observadora curiosa, mas ainda distante da realidade vivida pela comunidade. A experiência me transformou profundamente. Hoje, sinto que tenho uma compreensão mais empática e respeitosa das culturas indígenas e seus desafios. Aprendi a valorizar a diversidade e a importância de ouvir as vozes que muitas vezes não são ouvidas. Essa jornada me moldou como artista e como ser humano, ampliando minha visão de mundo e meu compromisso com a justiça social.