Aprendizado

– Quero ter um irmãozinho, disse João e não aceito um não.

– Todos meus amigos têm e eu não tenho ninguém.
Naquele instante, senti e percebi sua solidão, até aqui não tinha me chamado atenção.
Fui filho único por muitos anos e ter um irmão nunca esteve nos meus planos. Acabei tendo, mas não por minha vontade; foi uma mudança abrupta da minha realidade.
Sempre pensei em ter um só, dar tudo para o João. Amor, carinho, bens e dedicação – como imaginar que ele queria uma divisão? Talvez estivesse pondo nele muita pressão, complicado lidar com essa situação.
Não posso pautar pela minha experiência, cada um tem sua vivência, tenho a minha como referência, mas não devo utilizá-la como prevalência.
Olhando por outro prisma, é minha a cisma, talvez baseada num sofisma.
O que eu nunca quis, ele pode querer, cabe a mim entender e essa possibilidade amadurecer, quem sabe até atender…
A diversidade pode e deve ser enriquecedora, jamais castradora ou inibidora e sim uma mola propulsora.
Foi ruim para mim, mas não necessariamente será sempre assim, a roda gira sem fim, enfim…
Olho para o João e lhe digo que vou pensar com carinho no seu pedido, que seu desejo foi entendido e não será esquecido.
Em silêncio, acaricio seu cabelo e agradeço pela lição, pela reflexão e por questionar minha visão, incrível como os filhos nos ajudam na evolução, não dá para ser radical na minha opinião e me apegar ao definitivo não.
O problema foi meu, eu que não soube lidar, não é justo que ele vá pagar.
Tudo é efêmero, impermanente e mutável, é incontestável que mudar é saudável e a rigidez deve ser questionável. Viver é tornar-se adaptável e esse é um conselho inestimável.

Por Leonardo Andrade

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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br