Ao pé do verso: “Por quê?”, de Carlos J. H. Pereira

“Ao pé do verso” é o projeto da Pragmatha que se propõe a investigar os bastidores da produção poética. Nesta edição, o poema escolhido é “Por quê?”, de Carlos J. H. Pereira, que foi publicado no livro “O que as palavras revelam de mim”, publicado pela Pragmatha Editora

A ideia de escrever o poema surgiu quando o autor estava lendo uma matéria sobre a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, enquanto o processo estava em seu curso. Correndo os olhos pela matéria, Carlos se deparou com uma imagem de um membro Talibã empunhando uma arma e em seu braço uma corrente. “A inquietude se manifestou ao perceber que, no final daquela corrente, havia uma mulher presa”, afirma.

Segundo o poeta, a inspiração se pautou na estupidez que impera na humanidade, seus históricos rótulos, preconceitos que insistem ultrapassar a linha do respeito ao próximo e pela vida.

O processo de escrita foi rápido. “A inspiração surgiu num piscar de olhos, e quando percebi o poema estava pronto”, afirma. O poeta também afirma ter o objetivo de transmitir uma mensagem. A proposta era buscar a compreensão e o discernimento sobre temas tão antiquados, vazios e que vislumbram escuridão e fogem da luz.

O sentimento hoje, ao reler o poema, é de uma leve satisfação, de poder ofertar a reflexão por meio da arte.

Confira o poema:

Por quê?

Busquei em tuas formas entender-te

Criei inúmeras formas para aplicar-te

Se assim és, há quem te explique?

Ei, dúvida cruel!

Perpétua e avassaladora

Que envide os anseios,

Que enraízam o peito e a mente,

Desola desamparados, oprimidos,

Em certeza, no conceito e no amor.

Então, para desatar estes nós, o que é preciso?

Alguém? Quem? Por favor!

As vendas cegam

Beltranos, Ciclanos e nós, humanos…

Sombras de uma perfeição

Que só é vista por teus olhos

Não se permitem outros caminhos.

Em nome da fé, eu decido

Em nome da fé, eu vos falo

Em nome da fé, eu maltrato

Será que Deus

O meu, o teu, o nosso

Em sua plenitude

Entenderia o teu “Por quê”?

Até quando? Até quando

Preto ou branco?

Até quando? Até quando

Homem ou mulher?

Até quando? Até quando

Hétero ou Homo?

Até quando? Até quando

Poder pelo poder?

Até quando? Até quando

A dor como alimento

Do âmago.