“A Quimera do Torto” resgata lugares que não existem mais no cenário carioca

Ler “A Quimera do Torto”, do escritor Eduardo Guilhon Araujo e com publicação pela Pragmatha Editora, é visitar lugares que existem somente na memória dos cariocas. Em diversos contos o autor aborda locais que cederam espaço ao avanço imobiliário, mas que ainda habita o imaginário do Rio de Janeiro. Pedimos para o autor destacar três destes locais. Confira:

Além de fatos históricos, meu livro de contos, “A Quimera do Torto”, relembra lugares marcantes que não mais existem na paisagem carioca. Um deles é um mítico cinema que existia no bairro do Catete, o Azteca. Era um cinema enorme, com uma arquitetura fascinante. Sua fachada era composta de longas e enormes colunas ao estilo pré-colombiano, com diversas escadas que davam acesso ao cinema separadas com cabeças de um estranho e enorme animal com a boca aberta. Possuía quase 1.800 lugares, algo hoje inimaginável.

Construído por mexicanos, poucos hoje lembram do finado Azteca, que infelizmente foi abaixo em 1973 para dar lugar a uma famosa galeria no bairro, a 228. Famosa, mas de arquitetura duvidosa, como pode ser verificado na foto. Um singelo comércio do bairro ainda presta homenagem ao velho Azteca, se bem que poucos devem saber disto.

Outro conto em que presto este tipo de homenagem é em “A Escada”, onde abordo dois lugares do bairro da Laranjeiras que ficaram no imaginário popular.

Até os anos 1940 era relativamente comum as fábricas de tecido dentro do perímetro urbano da cidade e uma delas, a Fábrica de Tecidos Aliança, é abordada neste conto. Ela existiu na interessante Rua General Glicério (foto principal) e permeava também as ruas no entorno com suas casas de operários. Estas casas existem até hoje, uma colada à outra, mas agora abrigam famílias e não mais trabalhadores da extinta Aliança. A fábrica em si deu espaço para vários antigos prédios da General Glicério, com seus apartamentos enormes e muito concorridos nesta rua, que é um tanto aprazível e bem destacada dentre as ruas da zona sul da cidade.

Neste mesmo conto abordo um estádio que também já foi abaixo há muitos anos. Foi neste estádio que meu time – Flamengo – fez seus primeiros jogos de futebol, ainda sendo um clube fortemente náutico. O Estádio da Rua Paysandu ficava na rua de mesmo nome, bem em frente ao Palácio Guanabara e próximo ao estádio hoje de outro clube carioca, o Fluminense. O estádio pertencia à família Guinle, uma família riquíssima da cidade, proprietária na época inclusive do famoso Copacabana Palace. O Flamengo arrendou o estádio e mandou seus jogos lá de 1914 a 1932, fato hoje esquecido da maioria dos rubro-negros.

Três lugares esquecidos da paisagem urbana carioca e resgatados pelo livro.