“A ideia de escrever sobre as ruínas de São Miguel sempre me acompanhou”

A escritora Verena Rogoswki Becker apresenta, para seus leitores, a segunda edição de sua obra O mistério da lança de Sepé Tiaraju – Porque esta terra tinha donos, desta vez pela Pragmatha Editora. Nesta entrevista, ela fala sobre o processo de criação, sobre a maturidade literária que adquire a cada obra e também sobre o prazer de escrever sobre algo que toca o coração e faz sentido em sua historicidade.

Como surgiu a ideia de publicar o livro?

Morei em várias cidades, Campo Grande (MS), Estância Velha (RS), Ivoti (RS), São Lourenço do Sul (RS). Era normal perguntarem de onde eu era e na época respondia Santo Ângelo, Capital das Missões. Hoje as Ruínas de São Miguel do Arcanjo ficam na cidade de São Miguel. Era comum perguntarem sobre as Ruínas de São Miguel das Missões do Arcanjo, da história e dos jesuítas. Quando me formei em artes plásticas, voltei a morar alguns anos e lecionar na minha cidade natal e notei que os alunos não sabiam tanto como eu sobre essa linda história que nos contam as ruínas, assim como o massacre dos índios Guaranis pelos invasores portugueses e espanhóis. Também existia muito pouca literatura sobre o assunto. Sabia muito, pois, desde pequena era um lugar que meu pai levava visitas, tinha muito orgulho de ter ajudado meu avô em 1937, com dezessete anos.  Aos sessenta anos, parcialmente aposentada, resolvi fazer uma pós-graduação em história do Rio Grande do Sul, queria saber por que tanta gente e principalmente gaúchos não conheciam muito sobre o assunto. Escrever sobre elas me pareceu uma ideia fantástica, mas precisava de mais conhecimento.

Quais foram suas fontes de pesquisa?

Os professores da pós também não sabiam muito, outros assuntos de nossa história mostravam ser mais importantes para o conhecimento dos alunos. Depois de vinte anos voltei a Santo Ângelo e percebi que já existiam obras que contavam a realidade e a história como ela era realmente. Além de adquirir esses livros atuais, procurei pesquisar nas bibliotecas sobre o assunto, inclusive a da PUC em Porto Alegre (RS). Participei de muitos encontros, palestras de formação por vários anos.

Quanto tempo você dedicou à obra?

Enquanto professora de artes, a ideia de escrever sobre as ruínas sempre me acompanhou. Não posso ter a exatidão do tempo, eu não era escritora de história, poderia escrever sobre artes, mas apesar de amar história desde o primário (primeiro grau) achava que sabia muito pouco de escrita e história do Rio Grande do Sul. A ideia de escrever um livro sobre o assunto fervilhou mais intensamente quando assumi a direção da Biblioteca Pública Municipal de São Lourenço do Sul. Em meio a livros e leituras intensas enraizou-se a ideia com mais seriedade, então me dediquei mais de três anos profundamente nos estudos, cursos de literatura, escrita criativa, língua portuguesa, escrita fantástica e a pesquisar sobre o assunto.

Quais foram seus maiores desafios?

Aprender a diferença de um livro histórico e um romance histórico. Entenda que me criei brincando nas ruínas. Podíamos explorá-las em todos os cantos. A única proibição era tocar nas imagens. Minha imaginação, mesmo adulta, ia além da história. Fervilhavam perguntas sem respostas, mesmo dos mais renomados estudiosos em suas palestras as respostas eram vagas. Minha maior pergunta era onde teria ficado a lança de Sepé Tiaraju, depois que morreu lutando na guerra guaranítica. Escolher um romance incluindo a história foi minha escolha.

O que este livro tem de semelhante e de diferente em relação aos seus outros?

Meu primeiro livro foi um diálogo com minhas lembranças, poesias e pensamentos individuais, digamos um ensaio de escrita sem conhecimento sobre literatura, com o título de “Janelas da Criatividade”. Muitas coletâneas com contos também o foram na época. “Amnésia de Sofia” foi o terceiro livro, já com uma escrita melhor pela experiência com o romance histórico sobre a lança de Sepé Tiaraju. Acredito que essa nova edição se aproxima um pouco do livro “Coragem – Substantivo feminino”, onde usei histórias contadas pela minha avó paterna sobre a primeira guerra mundial, pois os estudos tiveram que ser tão ou igual a minha releitura deste agora na segunda edição, mais renovada, mais completa e com uma carga maior de conhecimento de escrita. O livro “Diário Vermelho” é um livro juvenil, sai dos parâmetros históricos.

O livro ganha segunda edição agora pela Pragmatha. Algum motivo especial por esta escolha?

Já falei várias vezes que a Editora Sandra Veroneze, da Pragmatha, se assemelha aos editores de outros países renomados em escrita. Me sinto bem quando estou escrevendo ou, como agora, reescrevendo um livro e tenho apoio permanente. Capítulo após capítulo seus diálogos individuais via online, sem hora para terminar, incitam minha criatividade na escrita. Esclarecendo dúvidas que os leitores poderiam ter, fazendo-me pensar melhor sobre alguns parágrafos que poderiam ser maiores ou menores, o estudo da capa, a escolha do nome, enfim o livro em cada página. Instigando sempre o olhar para mais longe e com mais profundidade para conseguir chegar ao que mutuamente queremos: um bom romance que agrade ao leitor. Essa segunda edição me deixa satisfeita com o resultado, como os outros dois, por isso a escolha.

O que mudou em você, produzindo este livro?

Especificamente este livro, nesta segunda edição, fez com que eu tivesse certeza de não ter errado em escolher um romance histórico a um livro histórico. Introduzir a história real de alguma coisa que já aconteceu, na ficção torna a leitura mais leve e mesmo assim mostra meus sentimentos com os acontecimentos passados, atuais e talvez até futuros do mundo em que vivo. É um empoderamento dos meus sentimentos em relação à pessoa que me tornei escrevendo sobre o que gosto.

Para adquirir a obra, entre em contato com a autora pelo WhatsApp 51 98479-6479.