– Quero ter um irmãozinho, disse João.
Maria já tinha ouvido o filho falar isso outras vezes. Ele tinha só cinco anos e queria alguém pra brincar. O que João não sabia é que nem tudo é tão simples como um desejo infantil.
Há cinco anos, Maria acreditava num futuro colorido. Uma casa, marido, filhos, uma família. E veio João. E junto uma constatação terrível. De que era frágil. De que a vida era um sopro. E de que por pouco seu filho não havia ficado órfão ao nascer. Escapou por pouco. Uma cirurgia complicada salvou sua vida, mas, a partir de então, engravidar não seria mais possível. Tocou a vida. Cada vez que o menino mencionava ter um irmão, ela comentava com o marido sobre a possibilidade de adotarem uma criança. Mas ficava nisso. Apenas num comentário. Nenhuma ação para que João efetivamente tivesse um irmão.
Hoje João volta a dizer que quer um irmão. Justo hoje, quando ela está em pedaços. Ela sabe que precisa ser a mãe do João e como mãe precisa dar suporte para a criança de cinco anos. Mas dói! Dói muito saber que João vai ter um irmão. Mas que ela não será a mãe dessa criança.
Chega à conclusão de que João quer um irmão e que o pai de João quer mais um filho. Ainda que seus desejos sejam tão diferentes e desencontrados. Só ela, Maria, ficou fora desta dança.
Por Cleia Dröse
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Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo e-mail sandra.veroneze@pragmatha.com.br