O presente chegou com cinco anos de atraso. Marta havia crescido tanto que o vestido de princesa não entrava nem por milagre.
Quando Marta tinha seis anos, amava os contos de princesas, reis e príncipes montados em corcéis brancos. Havia pedido ao pai (ausente) um vestido de princesa para ir a todas as festas de suas amiguinhas. Ele prometeu que lhe mandaria até o fim do ano.
Uma semana depois, José foi viver no estrangeiro. Uma oportunidade imperdível, segundo ele. Nem veio se despedir pessoalmente, apenas ligou explicando que a amava muito e que ia em busca de uma vida melhor.
Agora, com onze anos, Marta foi surpreendida com uma encomenda internacional. A princípio, não atinava do que se tratava. Precisou chamar a mãe para assinar o recebimento.
A mãe lhe mostrou o nome do remetente. Era um nome familiar, de alguém de que não ouvia falar há anos. Levou um tempo para localizar nas lembranças um rosto para aquele nome.
Abriu o pacote. Um lindo vestido. Tantos panos sobrepostos na saia rodada, o corpete bordado com fios dourados, uma preciosidade. Mas… cinco números menores do que seria adequado a Marta atual. Mãe e filha se entreolharam. A menina buscando um amparo diante da situação e a mulher tentando encontrar algo para dizer.
O vestido jogado sobre a cama aguardava seu destino, enquanto as duas saíam de mãos dadas pela rua, rumo à sorveteria da esquina.
Por Cleia Dröse
……..
Texto integrante do projeto de exercício literário proposto pela Pragmatha Editora em suas redes sociais. Participe! Em caso de dúvida, converse com a editora Sandra Veroneze pelo email sandra.veroneze@pragmatha.com.br