Na história da humanidade, diversos foram os episódios em que se queimou livro em praça pública. Isso demonstra a força e potência da palavra na promoção de mudanças. Perguntamos aos poetas participantes da antologia Mulheres pela Paz, da editora Pragmatha, sobre o que pensam e como analisam a literatura engajada nos tempos atuais.
Valéria F Leão
A literatura tem papel de suma importância na história da evolução da humanidade. O conhecimento nos leva à reflexão e ao questionamento. Se a desigualdade social é a mãe da injustiça, a literatura engajada é uma ferramenta poderosa para a construção de um mundo mais igualitário. Para as mulheres, enfrentar as barreiras impostas pela sociedade patriarcal sempre foi uma árdua tarefa. Só haverá paz no mundo quando todos, independe de gênero, assumam a responsabilidade de trabalhar em prol do bem comum.
Leonardo Andrade
É fundamental a literatura engajada, pois ela sempre levanta temas que devemos discutir na sociedade. A discussão pelos poetas pode ser enriquecedora, uma vez que eles veem o mundo sob outra perspectiva e podem apresentar um outro prisma, uma visão inédita e até elucidativa, além das restritas e aprisionantes “normas” vigentes. Creio que poesia seja essencial para que a hoje extremamente necessária literatura engajada torne-se obsoleta num mundo onde a igualdade não seja mais utópica e onde todos realmente tenham o mesmo valor e peso, onde não existam mais absurdos como preconceitos de todas as espécies e possamos todos juntos nos engajar apenas em sermos felizes e tornarmos o mundo melhor.
Rosa Luizari
A literatura precisa ser o espaço de vozes historicamente omitidas. O mundo contemporâneo pode ser (re)construído e (re)visitado por meio da escrita das mulheres e de seus pares na luta pela emancipação dos sujeitos políticos ignorados pelo cânone literário estabelecido na sociedade patriarcal. O feminino talvez seja o caminho adequado para a inserção de vozes letradas esquecidas e à compreensão da temática da paz mundial com o objetivo de se resolver conflitos de toda ordem. Em última instância, a literatura pode ser o espaço de união do masculino e do feminino em um gênero único, uma voz única pela paz.
Rita Queiroz
Cada vez mais se faz necessária uma literatura engajada, pois vivemos constantes processos de mudança, haja vista a pandemia do coronavírus que afetou todo o mundo. Em quaisquer sociedades há minorias subjugadas, em risco de extermínio, sob fortes ataques de grupos mais favorecidos. As mulheres, ao longo da história, sofreram discriminações e ainda sofrem pelo simples fato de serem mulheres, apesar de serem as guerreiras em conduzirem famílias, Estados e a si próprias. Na conjuntura atual de caos (sanitário, político, de desrespeito às liberdades conquistadas a duras penas), ser mulher e estar engajada em causas sociais, mesmo que a arma que se tenha seja a literatura, faz-se pertinente a luta constante pela paz e pelo respeito às diversidades de quaisquer naturezas. A paz passa pelo respeito. Que a bandeira branca seja aquela a ser hasteada a qualquer momento e em qualquer lugar.
Raquel Lopes
As mulheres têm papel importante dentro da literatura agora atualmente como antes e é nosso dever incentivar as novas autoras com novos conhecimentos, especialmente unidas debaixo deste tema “Paz”.
Rosalva Rocha
A literatura engajada confirma a intenção de expormos, através das palavras, o que efetivamente acreditamos. Com ela o espaço se abre, com muita liberdade, para sairmos em busca do que queremos como pessoas dentro do mundo no qual vivemos.
Simone Rohrig
Fazer literatura engajada nesse momento de pandemia, em que o mundo está fragilizado, é usar o poder da escrita poética para acariciar os corações, procurando trazer palavras de esperança e paz. E ao falar sobre o ser feminino trago todo o sentimento que uma mulher carrega dentro de si, seja em momentos de dor, tristeza, felicidade e amor. Mas o que mais importa para quem “desenha” cada letra formando palavras é que elas possam renovar, reanimar, reciclar o momento. E que cada uma seja um bálsamo na vida do leitor.
Ana Mendes
Creio que como mulher engajada na sociedade, através da educação dos nossos filhos, sobrinhos, afilhados ou entre colegas em nível profissional, devemos participar em diversos assuntos e divulgar situações do quotidiano, que podem alertar, aconselhar e/ou promover comportamentos, desajustes ou privilégios benéficos para tantas pessoas, que por falta de coragem ou por barreiras linguísticas podem sofrer ou fazer sofrer, em silêncio… Debaixo da nossa varanda, no corredor de um hospital ou servir-nos um café… Sim à leitura e divulgação do investimento pessoal de cada uma de nós.
Jeane Tertuliano
No presente, é perceptível que, embora fatos históricos estejam ao alcance das nossas mãos para que a veracidade destes possa ser verificada, o descaso tem estado a reinar. Visando alcançar os indivíduos que se negam a sair da caverna, a literatura engajada se faz necessária. Vivemos em tempos tão obscuros quanto os de outrora, e para que voltemos a ser lançadas à fogueira basta que relaxemos e observemos o fascismo, em parceria com a dolorida ignorância, trabalharem.
Giovana Cristina Schneider
Penso que é uma forma peculiar, pois, através da literatura, podemos mostrar com espontaneidade, sem ataques diretos, mas, com maestria, tendo em vista um bem comum, que é a escrita.
Isabel C S Vargas
A importância de uma literatura engajada é estabelecer e reafirmar o protagonismo da mulher e quebrar paradigmas de dominação e subserviência nas relações afetivas, matrimoniais e sociais ao longo da história e em muitas sociedades essencialmente masculinas e patriarcais.
Valquécia Costa
Estou comprometida com o enfrentamento à violência contra a mulher e na minha forma de escrever abordo o Abuso e o Amor. A literatura engajada nessa causa específica me trouxe a possibilidade de falar da dor de um relacionamento abusivo, demonstrando indícios de como identificá-lo, bem como espalhar esperança através da probabilidade de transformação. Acredito que assim posso tocar corações femininos com a importância do autoamor e de merecermos a paz.
Elaine Melo
O engajamento da literatura no mundo feminino é de extrema importância, porque infelizmente ainda precisamos provar nosso valor. Esperamos que um dia isso não seja mais necessário e que seja dada a devida importância que nos cabe. E a literatura faz o seu papel: escrevendo sobre o poder que a mulher tem, de ser o que ela quiser, quando e como ela quiser.
Angeli Rose
Penso, tanto como leitora e como escritora, que toda literatura é engajada em algum grau mais ou menos manifesto. Entretanto, é importante observar. Primeiro: Com que princípios é engajada. Segundo: Que em épocas de maior restrição, opressão ou repressão da livre expressão estética, o artista, no caso o escritor, busca recursos que deem a ver tais condições de cerceamento da (sua) humanidade, porque sente isso.
Marilu Queiroz
É sempre um enorme prazer participar da Antologia Mulheres pela Paz. Um projeto lindo e importante que marca o reconhecimento de uma cultura da paz e da fraternidade. Por intermédio da literatura e da arte esse ideal pode ser difundido e reconhecido pela sua importância social.
Geremias Goulart
Acho muito importante uma antologia sobre a paz, neste momento de pandemia, onde todos estão em isolamento social. O que se vê é muita agressão contra as mulheres, de forma cruel, o feminicídio. Os relatos podem propor uma reflexão geral.
Pedra Emanuely Pereira da Silva Carneiro
A literatura engajada engloba não somente as artes e a escrita, mas também uma ideologia de consciência sociopolítica que insere a mulher e a compreende como um ser ativo que a dispõe como agente de mudança na sociedade contemporânea a que estamos submergidos, dando voz e vez à mulher, pondo-a em defesa da vida, de ser respeitada como atuante e lutadora de seus direitos, sem deixar de ser uma boa mãe, esposa, e dona de casa. Viva o empoderamento feminino!