Cláudio Reguly é poeta que encontra no cotidiano sua maior inspiração. Pela Pragmatha, lançou o livro de poesias “Coração Mendigo”. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância do feedback do leitor, seu hábito de sempre ter consigo algum local onde escrever versos que surjam sem avisar, e também sobre seu processo de escrita.
Como foi, para você, descobrir-se escritor, alguém que se utiliza da palavra para externar sentimentos, ideias…?
Cláudio Reguly: Foi empolgante, me trouxe um ânimo novo, um entusiasmo inusitado, uma sensação inabitual de prazer, certamente uma sensação boa que não acontece com frequência na minha vida. Escrever é algo como renascer.
Em sua trajetória no universo das letras, quais as maiores alegrias até o momento?
Cláudio Reguly: Confesso que ter o livro nas mãos, poder ver e ler o resultado, muitas vezes de anos, é emocionante. Porém, considerando o universo além, ter o reconhecimento, ou um simples elogio por parte de algum leitor, seja ele quem for, é gratificante, satisfatório, realizador. Acredito que a motivação para quem escreve esteja no feedback com que lê.
Quanto ao processo de escrita, você acredita no 1% de inspiração e 99% de transpiração?
Cláudio Reguly: Se eu fosse mensurar por esses critérios, eu diria, 50% inspiração e 50% transpiração, uma vez que toda obra, seja ela qual for, necessita de aprimoramento, capricho e dedicação. No meu caso em particular, eu ainda iria considerar uma característica intrínseca minha, a de escrever por impulso, no calor do momento. Eu brinco que minha escrita (poesia) é instantânea, feito macarrão instantâneo (miojo), a água ferve, mais três minutos e está pronta, obviamente sem desconsiderar a etapa de aprimorar, caprichar e se dedicar.
Quais são seus maiores desafios, como escritor?
Cláudio Reguly: Acredito que o maior desafio seja encontrar e manter o ânimo, uma vez que escrever, e ainda se fazer ler, é uma missão inglória. Infelizmente a maioria das pessoas não aprecia literatura, ou não foi educada e desenvolvida para ter por hábito a leitura. Outros desafios estariam relacionados ao tempo disponível para se dedicar à escrita, uma vez que não sou um escritor “profissional”, e a falta de conhecimento quanto meio literário, aliada à incapacidade inicial ao acesso às editoras com intuito de avaliar e divulgar o trabalho.
Seus poemas cantam o campo, a família, as belezas do cotidiano… Você é aquele tipo de autor que anda com um bloquinho e caneta sempre por perto, para anotar versos que possam surgir, por exemplo, enquanto rega uma planta?
Cláudio Reguly: Sim! Ando com um bloquinho e caneta, que nos tempos atuais foram substituídos pelo smartphone / touch screen.
Como você define sua poesia?
Cláudio Reguly: Minha poesia, eu sempre desejo que seja simples, de fácil compreensão, que fale de coisas e sentimentos do cotidiano de um passado ainda recente e/ou latente e de um presente vivo, ardente. Nas minhas poesias, gosto ainda de brincar com a junção das palavras, fazendo um encontro de palavras habitualmente não encontradas juntas, que me faz acreditar que o leitor perceba elas de maneira inesperada, como por exemplo:
“relicária mobília de alma carioca, que habita minha neta lembrança”….
Com essa maneira de escrever tento deixar mais bela, toda e qualquer melancolia, que estejam contidas nas poesias.
“Coração mendigo” é um nome bastante sugestivo. Como surgiu a ideia?
Cláudio Reguly: O nome “Coração mendigo” me veio em pensamento, talvez por uma opinião particular, de que todo o ser humano com o passar dos anos se torna na maioria das vezes um mendigo de sentimentos, seja pelas frustrações vividas ou carências preconcebidas. Portanto, somos maior parte do tempo, na grande parte da vida, mendigos pedindo esmolas, do que ricos, bem resolvidos, e bem sucedidos, no que se refere ao quesito sentimentos.
Que conselho você dá para quem, hoje, está pensando em se aventurar no mundo da escrita criativa e poética?
Cláudio Reguly: Meu conselho, deixa eu pensar… Acho que seria para que continue sempre escrevendo, procurando, apurando, se possível diariamente, novos ânimos, para alimentar a sua escrita. E eu ainda diria que a escrita, na mais introspectiva das hipóteses de sucesso, é uma ótima terapia para quem escreve, uma ótima conversa íntima do escritor com o seu próprio eu.